ULTRAPASSANDO A FRONTEIRA DO “Ego”:
MINHA EXPERIÊNCIA COM COSMOCONSCIÊNCIA
Relado de Fernando
Salvino
Parapsicólogo
Clínico, Psicoterapeuta, Conscienciólogo
(IPRJ / ABRAP / NIAC)
Outubro 2011
Minha trajetória
investigativa da consciência é quase completamente
independente e autodidata. A começar que, aos 9 anos de
idade, por motivo de força maior, iniciei minha aventura
pelas pesquisas da projeção consciente para fora do
corpo sem precedentes. Amadureci as questões
"espirituais" muito cedo e fui aprendendo a lidar com
tudo isso quase que inteiramente sozinho. Os anos foram
passando, experimentei uma gama de métodos e em dado
momento, estudando a fundo as obras do antropólogo
brasileiro Carlos Castaneda interessei-me pela
possibilidade de indução da experiência fora do corpo
através de uso de substância especializada. Obviamente
não tinha acesso na época a ayahuaska ou peyote, porém,
circulava na minha mocidade uma substância que chamavam
de LSD. Moro numa ilha no Brasil, Florianópolis, e aqui
subsiste uma certa cultura hippie o qual participei
modestamente quando jovem. Então um amigo um dia me
disse que tinha conseguido LSD. A substância é ilegal,
porém, meu interesse era puramente experimental. Fazia
a faculdade de Direito na época e soube que poderia não
ser ilegal se tal substância fosse utilizada para
finalidades científicas. Minha ética interna estava
tranquila.
Convidei um grande
amigo, hoje médico, a acompanhar-me no experimento. Eu
tinha receio de dar algum tipo de efeito colateral
imprevisível, pois conhecia o potencial ativo de tal
substância através das experiências de outras pessoas e
leituras da área. Fomos para as dunas da praia da
Joaquina, no meio do deserto, tal como orientava o
xamanismo yaqui exposto nos livros de Castaneda. No
deserto não tem música, rituais ou outro agente que
poderia atuar como ação sugestiva. Montamos a barraca no
meio das dunas. Eu já tinha ingerido a substância
nestas alturas.
Em dado momento, eu
estava em profundo estado de expansão da consciência.
Nosso intuito foi acampar e avistar mais um céu
estrelado, trocar idéias profundas e presenciar o
nascimento de mais uma Lua cheia. O céu estava
radiante, com um brilho diferente e a quantidade de
“estrelas cadentes” era astronômica. Não havia luz
artificial alguma, somente a escuridão da noite
iluminada suavemente pela luz das estrelas. No auge de
meu estado de expansão, comecei a sentir minhas
capacidades visuais aumentarem significativamente. O
conjunto de estrelas presentes no céu começaram a me
apresentar como objetos pulsantes, vivos. Elas
latejavam como uma célula, pulsando conforme eu
aprofundava minha capacidade ampliada de visão. A
clarividência me colocava numa realidade em que não mais
havia um céu, como sempre, transparecendo meio estático,
mecanicista, tal como uma engrenagem cósmica com ritmo
mais ou menos constante. Não mais percebia este nível.
O que “via” era um céu vivo, pulsante e isto começou a
chamar cada vez mais minha atenção, a ponto de minha
consciência estar totalmente entregue a tal realidade.
Não existia mais nada para mim naquele momento, somente
a realidade das estrelas pulsando como seres vivos. Meu
centro mental, o frontochacra, estava aberto
estendidamente para o foco das estrelas. Na noite fria,
estrelada, permanecia deitado no chão frio das dunas,
agasalhado, percebendo a magnitude do céu inteiro
pulsando como um ser vivo. Não havia palavras. Queria
comunicar aquilo para meu amigo, mas não conseguia. O
fluxo começou a direcionar-me para reflexões profundas
acerca da natureza da realidade, da vida e do Universo.
Em dado instante, iniciei a focalização de uma única
estrela, escolhida por sua pulsação peculiar. A
focalização de minha atenção plena na estrela provocou
uma alteração maior e aumento em meu estado de
consciência. Para mim, naquele momento, só havia a
realidade daquela estrela, pulsante, viva, tal como um
ser vivo. Não eram mais objetos astronômicos, físicos,
mas seres vivos que respiravam num fluxo de dimensões
cósmicas. O aumento crescente de minha atenção em
relação ao fluxo estelar provocou uma expansão de meu
chacra mental para fora de minha cabeça física. Neste
momento senti que realmente poderia ir até a estrela por
intermédio de minha vontade decidida. Era como se minha
mente estivesse solta, livre, minha cabeça física já não
podia mais segurar a expansão de consciência que estava
imerso. O cérebro físico, neste momento, era somente um
aglomerado de carne limitada, uma prisão consciencial.
A clarividência proporcionou o aumento do fluxo de
expansão de meu centro mental até que comecei a
experimentar algo que nunca havia experimentado. Podia
sentir “minha mente” sair da cabeça física de meu corpo.
Comecei a experimentar esta saída algumas vezes, indo e
vindo. Tinha somente a percepção da mente, não podia me
ver, não havia corpo, forma. Mas estava ali, vivo,
livre para migrar até a estrela, em foco ininterrupto.
Sentia que o corpo mental de minha consciência saia
diretamente da cabeça física.
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A experiência aproxima-se desta imagem
cedida pela NASA
onde mostra a aproximação de uma nave
espacial a um "buraco de minhoca".
É visível uma galáxia nas proximidades da
outra boca. |
Num estado de
consciência paranormal, numa nítida projeção de
mentalsoma, comecei a ir de fato até a estrela, em
direção à sua luz. Abriu-se um “túnel de aura”
gigantesco, absurdamente imenso e eu comecei a
atravessar, numa velocidade acima da luz, na velocidade
de minha vontade decidida, de meu pensamento. Não havia
gravidade, tempo ou espaço, só a minha mente e minha
vontade. Não havia emoções, estava sereno, calmo e num
estado profundamente amplificado de lucidez. As paredes
do “túnel” pulsavam vivas, com as cores básicas do
arco-íris. O branco da estrela se decompunha nas cores
do arco-íris cada vez que aprofundava para dentro do
túnel. Fiz este percurso várias vezes, ida e volta.
Não cheguei a “lugar” algum. Num dado momento, me deu
um insight de ao invés de focalizar somente uma estrela,
focalizasse todo o espaço visível naquele momento; todo
o imenso céu estrelado. Prestes a obter a experiência
mais significativa de minha vida, ao focalizar todo o
espaço cósmico, senti-me num continuun cosmodifuso
lúcido, profundamente espalhado pelo universo. Minha
mente se diluiu e me tornei o próprio foco, tornei-me o
espaço, as estrelas, o Universo. Minha mente não mais
tinha forma, mas a forma do Universo focado. O Universo
que antes era somente um aglomerado de “bolas” que
giravam e mantinham ritmos mecânicos de rotas e
trajetórias newtonianas, agora me apresentava como uma
Consciência Viva, numa presença de espírito irracional e
ao mesmo tempo, extremamente lógica, coerente, como uma
verdade de fato. Não mais era eu mesmo, como me
conhecia até então, mas Tudo; ainda assim não deixara de
ser eu mesmo, mas, paradoxalmente, conservava,
intensificava e aprofundava minha individualidade. Era
o próprio holomovimento em sua expansão. A irradiação
consciencial cosmodifusa invadiu meu ser num nível tão
profundo que as palavras apresentaram-se pobres e não
merecedoras de expressão. Só havia o silêncio profundo.
Não havia palavras, mas uma sensação íntima de que
existia uma imensidão, um infinito, por trás de nossa
identidade pessoal, por trás do que chamamos de
Universo, sociedade ou o que quer que seja ou exista. A
vivência falou por si, e por si mesma me mostrou a
realidade transpessoal de mim mesmo e do Cosmos. Não há
argumentos contra; a vivência fala por si só e, por si
só é auto-comprobatória. Num universo infinitamente
vasto, a matéria apresenta-se como o “1% essencial”. Na
experiência da irradiação consciencial cosmolúcida,
entendo que a realidade da consciência se evidencia como
em nenhuma outra vivência que passei. As experiências
fora do corpo através do veículo emocional (psicossoma)
parecem ser o degrau para chegarmos até nossa real
identidade, mas ainda é pouco. As experiências de
exoprojeção para fora do Planeta não se comparam a
cosmoconsciência. Após esta transcendente experiência,
entrei subitamente em crise, queria chorar mas não
conseguia, queria falar mas não saiam palavras, queria
sumir, mas não podia mais. Sumir para onde, se não
existe Onde? Se eu acabara de ser Tudo? Não
podia mais negar a mim mesmo como sendo o Todo, pelo
menos durante um instante, relativamente eterno.
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Processo
de expansão e contração de um wormhole de
Schwarzscild.
Créd:
http://casasrv.colorado.edu/~ajsh/schww.html |
Anos após acessei as
obras de Stanislav Grof, o qual narrava sua experiência
cósmica dentro de um laboratório com o LSD. Grof foi o
precursor e o maior contribuinte para a Psicologia
Transpessoal. O uso do LSD foi justamente proibido
devido a sua utilização indevida como droga.
Apesar disso, após tal
experiência, pude obter experiências análogas sem
qualquer uso de psicotrópico projetivo, caracterizando
daí a experiência fora do corpo como um fenômeno que
pode ser induzido de várias formas, sendo que a mais
saudável é a pura, autoinduzida com metodologia natural,
baseada na vontade.
Em determinados casos
pessoas de muitos lugares vêm tentando induzir
experiências holotrópicas através da ayahuaska e peyote.
Processos xamânicos e mesmo linhas como união do
vegetal ou comunidade do santo daime. Porém o uso
extensivo de tais substâncias, como qualquer
psicotrópico, acaba gerando algum tipo de dependência
psíquica, porque o sujeito não faz esforço para ter a
experiência.
Para nós pesquisadores,
o uso técnico e científico, auto-experimental, é
aconselhado na medida em que possibilita ao
parapsicólogo ou conscienciólogo obter maior espectro de
atuação das experiências transcendentes. Para os
não-pesquisadores não aconselho o uso. Estas
substâncias, se a pessoa não tem estrutura interna e
estrutura energética para suportar o potente efeito na
psique, pode desencadear surtos psicóticos e outros
distúrbios, gerando resultados que podem ser muito
graves e com pouca possibilidade de retorno. Assim, em
regra, não use. Prefira, antes, métodos naturais,
técnicas meditativas e outros recursos que não coloquem
em risco a sua saúde. A experiência em si já é potente
e basta por si só.