Parapsicologia RJ - JOÃO NOGUEIRA DA SILVA

JOÃO NOGUEIRA DA SILVA

A INFLUÊNCIA DO POSITIVISMO NA CODIFICAÇÃO DO ESPIRITISMO.

  

2ª PARTE

 

Eis alguns princípios da parte filosófica dentro da doutrina Espírita:


Há no homem três coisas:
1°, o corpo ou ser material análogo aos animais e animado pelo mesmo princípio vital;
2°, a alma ou ser imaterial, Espírito encarnado no corpo;
3°, o laço que prende a alma ao corpo, princípio intermediário entre a matéria e o Espírito. (KARDEC, 1989, p. 23).

 

Fig.3 Períspirito14.

Apesar de no período do Neo-Espiritismo15 se dedicarem mais com os fenômenos aparições e comunicações frívolas ou fraudadas como ocorreu em Hydesville com as Irmãs Fox16, isso teve uma grande importância para aguçar pesquisadores de todo o mundo para uma explicação científica dos fenômenos ditos espíritas.

As sessões de manifestação espírita se tornaram banais na França, às prestidigitações aumentavam cada vez mais com essa nova forma de passar o tempo nas noites, se divertindo com as mesas girantes e falantes, a curiosidade das pessoas eram aguçada, a banalidade das sessões causavam alvoroço na sociedade, por isso foi criado o regulamento da sociedade parisiense de estudos espíritas, fundada no 1º de abril de 1858 autorizada por decreto pelo prefeito de polícia em 13 de abril de 1858 este regulamento servia para colocar um controle na banalização das sessões.

Diversos homens de diferentes ramos dos conhecimentos se propuseram a resolver o problema e mesmo assim não conseguiram dar uma resposta satisfatória ao mundo. Na Inglaterra foi constituída uma comissão de investigação sendo o principal cientista William Croockes17, na França Charles Richet18 foi o que mais se destacou em suas pesquisas criando uma nova ciência denominada de Metapsíquica19.

2.2 - OS TIPOS DE CONHECIMENTOS, TEOLÓGICO, FILOSÓFICO E CIENTÍFICO

O conhecimento teológico é passado para os homens através de conhecimentos adquiridos por uma maneira de revelação divina e de fé, onde são aceitos de uma maneira racional, mesmo sendo criticado pela ciência ele tem uma credibilidade focalizada na fé.

O conhecimento filosófico tem o objeto não perceptível pelos sentidos sendo sistemático, pois, busca uma reflexão para solucionar os problemas, é elucidativo, o conhecimento filosófico tem o objetivo de demarcar os pensamentos, conceitos de uma forma precisa, é crítico e usa da crítica para fazer do conhecimento um exame prévio, tem um lado especulativo já que faz formulações, teorias e faz hipóteses que as teorias sejam explicadas e questionadas.

O conhecimento científico difere do empírico, pois, este é um conhecimento adquirido pelo povo através de experiências próprias ou alheias, que são passadas ao longo do tempo fazendo parte da cultura popular, esse conhecimento, já o conhecimento científico busca explicar não só o fenômeno, como também, as causas e as suas leis que o regem, através de uma forma racional e sistemática, a ciência só aceita o que foi provado, que é obtido através da demonstração e da experimentação.

Allan Kardec faz uma vasta análise histórica da qual começa com o mistério da origem do universo até os dias contemporâneos a ele, vai narrando e explicando os fatos em épocas diferentes e mostrando que os fatos passaram pelo estágio teológico, metafísico e finalmente chegou ao estágio positivo, que estaria pronto para ser codificado sobre uma nova religião para a humanidade por isso ele cria um novo neologismo para falar da codificação este é chamado de Espiritismo. Para Kardec a religião deve andar junta com a ciência e afirma ainda em suas citações que fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente à razão, em todas as épocas da Humanidade.

O positivismo criado por Augusto Comte no século XIX teve grande influência na codificação do Espiritismo. O positivismo gerou um esforço para implantação da lógica das ciências exatas e naturais, a ciência seria uma forma para a evolução da humanidade.

2.3 - OS ESTÁGIOS DO POSITIVISMO, TEOLÓGICO, METAFÍSICO, POSITIVO

O positivismo foi embasado na substituição da fé cristã pela razão científica. A filosofia Comteana via a evolução progressiva do homem através de uma formação científica dentro da sociedade através do seu modelo pedagógico que era fundamentada na lei dos três estados – teológico,metafísico, positivo - que tinha o objetivo de regenerar o homem, tirá-lo da obscuridade.

O que vem caracterizar o estágio teológico é a busca do conhecimento absoluto, para que pudesse haver assim uma explicação do universo através dos fenômenos sobrenaturais da natureza, no segundo estágio, metafísico, as forças abstratas vão dar lugar às entidades personificadas, substituído os agentes sobrenaturais, por fim, o último estágio, positivo, há um raciocínio dos fenômenos e fatos, através da observação e racionalidade transformando os fenômenos em princípios de certeza, o estado positivo é constituído pelas leis e pela observação, Kardec afirma “se todo efeito tem uma causa, o efeito inteligente tem uma causa inteligente” (1984 p.93).

Os espíritos progridem gradualmente e tem vários graus de inteligência e moral, não existe distinção da origem dos espíritos a única coisa que existe são os graus de perfeição alcançados por processos de vidas sucessivas. Kardec dá sua conclusão quanto à imperfeição do homem, ele fala que “os espíritos não são perfeitos por que não são mais que as almas dos homens que não atingiram também a perfeição; e pela mesma razão os homens não são perfeitos por serem encarnações de espíritos mais ou menos adiantados.” (1984.p.119).

Na erraticidade20 os espíritos ainda conservam muitas vezes as suas paixões e ignorâncias é o que podemos muitas vezes ver nas comunicações frívolas que se realizam nas sessões de baixo escalão.

Há uma diversidade de espíritos onde eles se classificam como bons, maus, sérios ou frívolos. A natureza da comunicação do Espiritismo não esta ligada a perguntas frívolas nas sessões que sempre ocorrem em ambientes fechados, através de médiuns.

Dependendo da evolução do espírito de acordo com a Doutrina Espírita o planeta Júpiter seria o mais evoluído para renascer, enquanto eles não reencarnam eles ficam em um estado de erraticidade que é o tempo que o desencarnado fica no mundo astral.

O Sol segundo os espíritos seria um mundo habitado por seres corpóreos mais simplesmente um lugar de reunião dos espíritos superiores os quais de lá irradiam seus pensamentos para os outros mundos que eles dirigem por intermédio de espíritos menos elevados transmitindo-os a estes por meio do fluido universal (KARDEC, 1989, p.128).

O Fluido universal que Kardec fala anteriormente se trata da matéria básica fundamental de todo o Universo material e espiritual, a matéria elementar primitiva. É altamente influenciável pelo pensamento - que é uma forma de energia - podendo se modificar, assumir formas e propriedades particulares. A ação do Pensamento Divino sobre o fluido universal deu origem às nebulosas, aos sistemas estelares, aos planetas e astros. É nessa matéria fluídica que o Criador executa o plano existencial. O fluido universal preenche todo o espaço existente entre os mundos. Por meio dele viajam as ondas do pensamento, do mesmo modo que as ondas sonoras se projetam na camada atmosférica.

O mundo dos espíritos exerce grande influência no mundo físico, o objetivo do Espiritismo não é só entrar em contato com os desencarnados e sim, através desse contato que se transmite através da mediunidade, ensinar-nos que a alma é imortal e que a nossa moral exerce importância na nossa vida tanto espiritual quanto social, e que ela faz parte do nosso progresso espiritual.

As manifestações são provas da imortalidade da alma e de sua individualidade demonstrando a sua situação de feliz, infeliz, superioridade ou inferioridade. No livro dos Espíritos, Kardec se questiona sobre a possibilidade de um espírito que antes animava o corpo de um homem encarnar num animal, e explica que “Isso seria retrogradar e o espírito não retrograda. O rio não remonta à sua nascente.” (KARDEC, 1989, p.302).

O aperfeiçoamento dos espíritos vai progredindo de acordo com o grau moral que eles adquirem nas reencarnações, essa idéia de reencarnação se introduziu no Espiritismo pela influência das religiões orientais, não se sabe quem foi o criador do sistema da metempsicose21, porém sabemos que desde a antiguidade esse sistema é aceito por algumas religiões transcendentais, Hinduísmo, Budismo, Jainismo.

Existe uma diferença entre metempsicose e reencarnação, a primeira seria a transmigração da alma humana para os animais, essa transmigração é uma condição temporária e tem a finalidade de punição vg: as pessoas sem pudor poderiam nascer em corpos de porcos, os assassinos poderiam nascer em corpos de animais ferozes.

A reencarnação que foi ensinada pelos espíritos não aceitou o sistema da metempsicose, pois essa transmigração seria contra a lei natural do progresso, os espíritos ensinaram que a progresso do homem se dá na sua própria espécie, isto é no corpo humano através de sucessivas reencarnações até chegar ao estágio de perfeição, aonde o processo reencarnatório chegaria ao fim, e o espírito passaria a gozar de toda felicidade.

Através da lei do carma, que é a lei de ação e reação, as pessoas passam pela escala evolutiva, se uma pessoa pratica o mal em outra vida passa por sofrimentos proporcionais ao mal que fez, a caridade nos aproxima dos carmas bons em outras vidas, funciona como uma colheita, é preciso semear o bem para colher depois.

Para Kardec (1989) a ignorância é um estado transitório, o homem tende a progredir as revoluções sociais e morais ajudam-no a sair da ignorância, pois, nem todos progridem simultaneamente, o progresso é uma lei natural humana, o homem não pode rejeitá-la, esse progresso nunca retroage, pois retroagir seria contra a lei do progresso esta lei rege a humanidade e as civilizações que se tornam mais evoluída com o tempo.

O progresso é dividido em duas partes uma do progresso intelectual onde predomina a inteligência da civilização, onde os povos civilizados a possuem, e o progresso moral que ainda está muito atrasado em relação ao progresso intelectual, o egoísmo e o orgulho dos homens dificulta este progresso através dele os males que as civilizações causam desaparecem com o progresso moral.

A reencarnação para o Espiritismo esta baseada na justiça divina, pois através das sucessivas vidas corporais o espírito pode alcançar a perfeição, através de provações e expiações, o espírito nunca os retroage sempre tem a sua evolução progressiva.

Elevando a sua hierarquia, Kardec usa uma escala espírita para organizar os graus de adiantamento e os estados de imperfeição que os espíritos estão à transição do grau seria apagada como um esquecimento de seu passado, essa classificação hierárquica é formada com método, análise e conhecimento de acordo com a doutrina são três as categorias de espíritos: terceira categoria, espíritos imperfeitos, onde existe uma tendência ao mal, à matéria predomina sobre o espírito alimentando as suas paixões, orgulhos e egoísmo, porém nem todo tem a total maldade o grau de maldade depende de suas ações de inferioridade, esta inferioridade não quer dizer grau de inteligência e sim de suas ações que atentam contra o bem e a moral; segunda categoria, espíritos bons, esses seriam de segunda ordem onde a matéria ainda conserva uma grande influência sobre eles mais ou menos dependendo do grau de bondade, quando eles estão encarnados22 esses espíritos rejeitam o orgulho, egoísmo, ódio e a ambição, estes são popularmente conhecidos como anjos guardiões; já os espíritos de primeira categoria seriam os puros, onde já alcançaram todas as etapas de vidas sucessivas e não necessitam mais de reencarnar, pois já atingiram a perfeição e a superioridade intelectual e moral, porém não detém o conhecimento absoluto, pois esse só Deus possui, como Kardec afirma na primeira pergunta do livro dos espíritos, de quem seria Deus, para ele “Deus é a Inteligência suprema, causa primária de todas as coisas” (1989, p.51).

2.4 - PARTE MORAL DO ESPIRITISMO

A palavra moral vem do latim mores, se referindo aos costumes e modos de agir de uma sociedade, na moral positivista Comte dividiu-a em dois sentidos uma moral prática e outra teórica esta se construiria através de valores que assim alcançaria o progresso no aperfeiçoamento da natureza do homem que estava em um estado obsoleto, a reforma moral seria restaurada através de sua lei dos três estados, aquela seria uma moral conhecida pelo estudo da natureza humana a luz das ciências.

A parte moral da doutrina está contida no terceiro livro de Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo, onde ele faz uma nova interpretação dos evangelhos baseado nos ensinamentos de Jesus e dos espíritos superiores, a moral espírita não é mais que a moral ensinada por Jesus, onde ele prega o desapego das coisas materiais, ao egoísmo e a prática da caridade.

Toda a moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, isto é, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho. Em todos os seus ensinos, ele aponta essas duas virtudes como sendo as que conduzem à eterna felicidade: Bem-aventurados, disse os pobres de espírito, isto é, os humildes, porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados os que têm puro o coração; bem-aventurados os que são brandos e pacíficos; bem-aventurados os que são misericordiosos; amai o vosso próximo como a vós mesmos; fazei aos outros o que quereríeis vos fizessem; amai os vossos inimigos; perdoai as ofensas, se quiserdes ser perdoados; praticai o bem sem ostentação; julgai-vos a vós mesmos, antes de julgardes os outros. Humildade e caridade, eis o que não cessa de recomendar e o de que dá, ele próprio, o exemplo. Orgulho e egoísmo, eis o que não se cansa de combater.  E não se limita a recomendar a caridade; põe-na claramente e em termos