Parapsicologia RJ - Geraldo dos Santos Sarti

ASPECTOS PARAPSICOLÓGICOS
DAS PSICOLOGIAS

 

G. S.Sarti

(IPPP/ABRAP) – 02/2009

 

  

Publicação original no
Anuário Brasileiro de Parapsicologia no 2 - 1997

 

 

INTRODUÇÃO

As várias correntes psicológicas têm por finalidade dar explicações sobre o comportamento humano e animal e sobre os vários desvios nele encontrados.

Não se traçam neste trabalho todas as psicologias criadas ao longo de praticamente mais de 100 anos, mas foram destacadas as principais correntes que atualmente servem de base para as análises dos comportamentos, afecções e formas pouco comuns do desenvolvimento.

Ver-se-á claramente que neste pequeno apanhado, as linhas diferem radicalmente sendo todas elas, sem exceção, provenientes de teorias especulativas sobre a matéria porém sem qualquer comprovação experimental.

Dentro desta miríade de possibilidades, aspectos parapsicológicos são deixados de lado ou ficam permanecendo inconscientemente implícitos nos desenvolvimentos.

É sobre estes dois aspectos, a ausência de uma unidade básica na psicologia convencional e a capacidade da parapsicologia de inserir fenômenos e teorias agregadoras para se encontrar um módulo de investigação primordial em psicologia, que nos propusemos a fazer pesquisa teórica.

A temática é difícil e complexa, daí apresentar uma tendência algo caótica assim que se passa da análise sucinta de uma corrente psicológica para outra, característica essa que procuramos minimizar mas que possivelmente exigirá estudos posteriores de natureza integradora.

No caso da Psicanálise nos ativemos exclusivamente às formulações freudianas deixando de lado as novas concepções introduzidas por Lacan.  Estas são consideradas na parte relativa à Psicologia das Psicoses, que é tratada separadamente no capítulo destinado à Psiquiatria.

A Psicologia do Autismo teve tratamento diferenciado tendo em vista toda a problemática que envolve o paciente autista, assim como a Psicologia do Superdotado, parte na qual procuramos estabelecer uma distinção com a dotação paranormal acompanhada de breve discussão.

A Psicologia Profunda de Jung teria que ser considerada no texto haja vista sua nova interpretação do fenômeno paranormal.

A Psicologia da Gestalt, como teoria substituta da Teoria Comportamental, assume papel importante na descrição das psicologias em geral, daí sua inclusão neste texto.

Outras psicologias, como a da Percepção, foram igualmente abordadas haja vista suas interseções com a Parapsicologia.

PSICANÁLISE

A psicanálise, fundada por Freud na passagem do século e paulatinamente modificada pelo autor ao longo dos anos, basicamente consiste em obter uma linguagem consciente de aspectos e acontecimentos recalcados na infância e formadores de sintomas neuróticos.  A chave do recalque de imagens, evocações e eventos situar-se-ia na esfera do sexual, com estratificação no chamado complexo de castração, elemento de ordem filogenética que impediria as relações incestuosas.

Essa questão, reconhecidamente humana e como uma das formas organizadoras das sociedades como um todo, não possui uma explicação razoável embora esteja no núcleo da teoria psicoanalítica.  Naquele momento, Freud apossou-se do mito grego de Édipo o qual, matando seu pai Laio acabou casando-se com sua mãe Jocasta, vindo posteriormente a autopunir-se por seus atos.

Pois bem, tal história mitológica é passada de cultura a cultura como se fora uma impressão única, de etiogenia cultural, transgeracional e não verbal, já que não é contada de pais para filhos a não ser em uma parcela muito pequena da população.  Esta maneira de transmitir uma idéia complexa como tal, aparentemente sem um meio físico, atinge principalmente o deslocamento de um afeto conjunto que é o do horror à castração e à punição sexual.

Fica então sem resposta a pergunta: se o complexo de Édipo, com seu afeto, não é dito, como mantém-se no seio do comportamento humano?

Alguma explicação sociológica pode ser dada, principalmente no que se refere ao ordenamento das hordas primitivas através da exogamia de algumas tribos da Polinésia, sintetizável no respeito ao pai totêmico e na tradição anti-tabu de um dia de destruição do pai, ou se se quiser, de liberação.  Este teria sido um comportamento primitivo da humanidade e que teria ficado inexplicavelmente gravado em todas as sociedades atuais.  Não havendo como transmiti-lo por hereditariedade, só se poderá admiti-lo como uma informação de natureza não física e portanto, semântica, o que o faz, o comportamento, ser modelado por algum nível paranormal.

Mas não se deve estranhar esse aspecto da psicanálise.  Na descrição metapsicológica dos conteúdos recalcados do inconsciente, e na descrição deste, Freud afirma que, além do sistema inconsciente ser de livre movimentação, sem sofrer contradição interna é de natureza atemporal.  Ora, não se deve tratar de espaços fisicalizados, como os de Freud, como espaços atemporais, sob pena de cairmos na armadilha da sua assertiva, que só vem justificar o que se disse sobre o problema do complexo de Édipo:  "Constitui fato marcante que o inconsciente de um ser humano possa reagir ao de outro, sem passar através do consciente.  Isso merece uma investigação mais detida, principalmente com o fim de descobrir se podemos excluir a atividade pré-consciente, porém, o fato é incontestável".

Nesse ponto, deve-se dar destaque ao fato de que o sistema pré-consciente de Freud pertence ao sistema consciente e que este último está relacionado ao contato do aparelho psíquico com o mundo exterior.  Sendo assim, o que Freud na verdade está afirmando é que algum conteúdo psíquico inconsciente de uma pessoa interage como outro conteúdo psíquico inconsciente de outra pessoa sem que o processo utilize energia do exterior ou que sofra interferência dos sentidos.  Não há como fugir desta interpretação da teoria psicanalítica, mesmo tentando fazer rodeios e promover raciocínios complicados.  E, como já dito, este processo inconsciente e extra-sensorial coincide plenamente com a teoria da transmissão do conteúdo recalcado no caso da angústia de castração nuclear do complexo de Édipo.

Além disso, os psicanalistas admitem, de maneira explícita, existir um inconsciente próprio do setting analítico, diferente dos inconscientes do paciente e do analista.  Neste sentido, fica claro que, além da emissão vocal ou perceptual de um significado, o significante analítico perde seu valor de significador quando, ou o paciente ou o analista, sem interlocução emprestar-lhe um significado qualquer, como se aquele significante perdesse seu valor potencial de significação pelo simples fato de algum dos participantes da cena, isoladamente, lhe desse um significado.

Os três aspectos apresentados, todos eles centrais, seja como formadores da teoria psicanalítica, ou do desenvolvimento do aparelho psíquico e ou do tratamento psicoterápico, em si, mostram que, embora não aceita, a telepatia é um aspecto concreto da teoria psicanalítica.

PSICOLOGIA DA PERCEPÇÃO

Um dado importante dentro da chamada psicofisiologia da percepção é o processo de observação visual, que talvez possa se estender aos demais sentidos exteroceptivos.  Têm-se, inicialmente, um cérebro decodificador e um objeto distal a ser decodificado.  O objeto distal, desconhecido do cérebro porque ainda não percebido, é conduzido a ele pela via cistalino-retina-nervo óptico.  Para que a onda luminosa proveniente do objeto se apresente inteligível, é necessária uma acomodação do cristalino de tal sorte que ela seja focada na retina pelo encurvamento do cristalino e daí transmitida pelo nervo óptico para a região occipital do córtex cerebral.  Porém, o intrigante, neste caso, é que a necessária acomodação do cristalino aos parâmetros dimensionais do objeto é feita antes que o impulso nervoso atinja o córtex.  A pergunta que fica é: que comando inteligente dirige a modificação da curvatura do cristalino para que a imagem possa vir a ser futuramente decodificada no cérebro?  Em outras palavras, não havendo percepção sensorial nem decodificação, como poderá a musculatura ocular agir independentemente de uma hierarquia central e ficar ao sabor das variações caóticas do meio exterior?  A resposta que me ocorre é: o link paranormal com o objeto já havia sido estabelecido adimensionalmente e significativamente, de forma que o processo perceptivo nada mais faz do que tornar temporal e espacial algo pré-existente.  Este link informacional, para os nossos leitores, é de natureza paranormal e semântica, fonte, em nossa teoria dos mecanismos paranormais seletivos de informações, de toda capacidade humana de sobrevivência.  Qualquer outra explicação para o fenômeno perceptual será bem-vinda mas, parece-me, de difícil elaboração.

Esta forma de conhecimento, notadamente precognitiva, apresenta certa semelhança com o conhecimento fenomenológico intencional de Husserl, bastando invertermos a sentença que vem a seguir.  Para ele, nas suas investigações lógicas, vem: "É fácil reconhecer a indubitável diferença fenomenológica que existe entre o conhecimento estático e dinâmico.  Na relação dinâmica, os membros da relação e o ato de conhecer que os relaciona estão afastados temporalmente, desdobram-se numa figura temporal.  Na relação estática, que está aí como um resultado permanente desse processo temporal, elas se recobrem temporal e concretamente."

Em discordância, mas aproveitando os termos do filósofo, poder-se-ia dizer no caso do conhecimento visual que estudamos: "O conhecimento estático é atemporal, ao contrário do conhecimento dinâmico e do acordo entre ambos resulta o ato intencional de conhecer."

PSICOLOGIA TRANSPESSOAL

A Psicologia Transpessoal trata de tentar descrever e explicar os chamados estados alterados de consciência.  Tais estados, que na verdade são experiências culminantes da consciência, podem ser induzidos por vários processos que intentem produzir alguma forma de ampliação das percepções e de experiências internas dos indivíduos ainda em vigília.  Meditação, alucinógenos e privação sensorial (Ganzfeld) são, via de regra, os métodos utilizados para provocar tais estados.  Em todos eles, o eletroencefalograma fica alterado de maneira que o paciente, lúcido, experienciando vivências distorcidas e diferentes do estado normal beta, as pode descrever para observadores externos.  Nos casos de Ganzfeld e de meditação ocorre relaxamento muito grande com redução do lactato no sangue, gerando, como resultado, um abaixamento do nível de atividade elétrica do cérebro.  No caso dos alucinógenos, em geral o LSD, há uma elevação artificial da serotonina, neurotransmissor de fórmula estrutural bastante parecida com a do alucinógeno (anel indol).  Esta atuação assemelha-se à ingestão de IMAO que, causando depleção da monoaminaoxidase pós-sináptica, libera os circuitos serotoninérgicos e modificam os padrões eletrográficos.  Os inibidores IMAO são largamente utilizados nas depressões endógenas de forma que especulou-se a possibilidade de se produzirem reações positivas em pacientes melancólicos através de alcalóides derivados do fungo ergotina.  E, no tocante ao eletroencefalograma, ele indica, ao contrário da meditação e de Ganzfeld (à exceção de efeitos paradoxais), uma excitação do simpático.

Feito este breve intróito dos fundamentos da Psicologia Transpessoal, deve ser dito que, deixando de lado os perigos que seus experimentos podem ocasionar para o sujeito, ela é fonte de inspiração da Parapsicologia.  O ponto neurofisiológico em comum é exatamente a modificação em vigília dos traçados eletrográficos.  Experiências de "visão remota", por Targ e Putthof, em Stanford, indicaram que paranormais durante a ESP também apresentavam distorções elétricas no córtex cerebral.  Além disso, as descrições dos sujeitos transpessoais revelaram uma agudeza perceptiva muito superior à normal bem como uma verdadeira ampliação da consciência, ambas situações que os faziam mostrar-se desligados da realidade do senso comum.  Na linguagem da Parapsicologia, dir-se-ia que estavam deslinkados das percepções sensoriais e especialmente suscetíveis de estabelecerem links extra-cerebrais, facilitando a entrada de informações não sensoriais, holísticas e globais; em outras palavras, o que se chama de seletores da atenção paranormal ou filtros paranormais, para estes sujeitos, abriram-se muito mais do que em uma pessoa que estivesse utilizando sua sensorialidade perceptiva.

A possibilidade dos sujeitos transpessoais descreverem suas vivências é um instrumento forte para a análise psicológica do fenômeno paranormal.  Suas experiências místicas, universais, suas relações de confusão com visões de objetos não vistos e de situações não vividas pessoalmente podem indicar que em ESP as descrições estão igualmente influenciadas pelas memórias engramáticas, por afetos e situações particulares de cada crença.  Estas permanentes "interferências" durante a ESP nos permitem interpretar que o mecanismo paranormal está, em geral, afetado pelos aspectos subjetivos de quem relata o fenômeno, de sorte que o conhecimento extra-sensorial perfeito fica difícil de ser expresso, embora não deixe de ocorrer objetivamente.

PSICOLOGIA DO SUPERDOTADO

Extremamente fascinante é a psicologia aplicada à superdotação intelectual.  São superdotados os indivíduos com quociente intelectual muito acima da média, ficando, de certa forma ao agrado do pesquisador, determinar o desvio estatístico que os caracteriza.  Tecnicamente, apresentam desempenho abstrato superior, nas várias provas e problemas que lhes são ministrados, entendendo-se por tal a precisão e a velocidade das respostas.  Pode-se admitir, sem receio de erro que, em uma curva populacional normal, uma significância unilateral de 1% já signifique superdotação.  Em termos de Brasil, isso significa que cerca de um milhão de pessoas são superdotadas.  Esse dado tem uma faceta social desde que se admita que é dentro das sociedades, que podem ser mais ou menos independentes, que surgem os problemas a serem solucionados pelas populações, de certa maneira enviesados pelas características culturais que as recubram.

Tendo em vista que, embora o percentual de desvio do acaso seja muito baixo, o valor absoluto de superdotados no País é muito alto, de forma que a Constituição do Estado de Pernambuco, promulgada em 05.10.89 reza, em seu artigo 174 que: "O Estado e os Municípios, diretamente ou através do auxílio de entidades privadas de caráter assistencial, regularmente constituídas, em funcionamento e sem fins lucrativos, prestarão assistência aos necessitados, ao menor abandonado ou desvalido, ao superdotado, ao paranormal e à velhice desamparada".

A contiguidade entre os termos "superdotado" e "paranormal" encontrados acima, não são fruto de mero acaso, e aqui vale uma observação.  O nível de significância do desvio em relação à média para o desvio padrão do paranormal, nos testes correntes de ESP e de PK situa-se, igualmente, em 1%.  Essa coincidência nos levaria a crer que paranormais e superdotados fariam parte de um mesmo grupo.  Todavia, estudos experimentais procedidos pela Duke University, USA, com a sociedade Mensa para superdotados, revelaram, de maneira clara que os superdotados, em geral, não são paranormais, embora possa haver paranormais superdotados.  Em contrapartida, o Dr. Ferraz Salles, da Associação Brasileira para Superdotados, de São Paulo, verificou a incidência de graus de paranormalidade em seus pacientes superdotados, a ponto de ter declarado: "Temos observado que, os indivíduos de que tratamos em nosso trabalho, possuem algumas capacidades supranormais principalmente a telepatia e, mais raramente , a previsão antecipada de fatos".

Concomitantemente, aquele pesquisador aduz que a superdotação intelectual está associada à hipoxemia cerebral do nascituro e que exercícios de meditação, anfetaminas e LSD favorecem o aparecimento de percepções extra-sensoriais, pela utilização equalitária dos dois hemisférios cerebrais, o que não ocorreria em condições normais de dominância hemisférica.  Em outras palavras, pacientes superdotados com dominância lateral esquerda utilizar-se-iam de lateralidade destra no exercício de suas funções intuitivas e paranormais, sob efeito das técnicas, já mencionadas, de ampliação da consciência.

Um raciocínio numérico simplista nos faria crer que da população total, os paranormais superdotados situar-se-iam no grau de 0,01%, de significância.  Porém, entra aí um elemento complicador.  Como definir o gênio?

A nosso ver, o gênio intelectual possui uma característica de personalidade tipicamente distinta.  Tal distinção, que coloca como que entre parênteses um determinado fato em questão, traduz-se em algum desligamento da realidade sensorial, marcantemente contínua, contígua e necessariamente plana.  Tais aspectos sensoriais são aqueles que preservam a integridade vital e que estão deveras associados à sobrevivência humana através dos fatores paranormais seletivos.  Porém, a realidade sensorial está muito distante do que deve ocorrer efetivamente.  Em verdade, os objetos de nossa observação sensorial movimentam-se permanentemente, e, assim, não seríamos normalmente capazes de destacar e de identificar um objeto de nossa atenção no espaço e  no tempo.  Esta capacidade de destacar um prisma de realidade é a característica personalística do gênio intelectual, que se diferencia do superdotado, modernamente assumido ser possuidor de um fator geral de aprendizagem (fator G), por manter a consciência em caso de falha dos fatores seletivos redutores da informação global.  Citaremos, na área da Física, alguns exemplos pujantes:

- Curie e a observação ao acaso das marcas de emissão radioativa em um filme inadequadamente situado no laboratório.

- Dirac, prevendo o pósitron através da teoria impossível do vácuo de energia negativa.

- Millikan, introduzindo alta subjetividade na escolha de medidas para determinação da carga de elétron nas experiências rústicas de gotas de óleo.

- Fermi, produzindo a primeira fissão nuclear com material moderador (parafina) de nêutrons, aparentemente inapropriado.

- Einstein, criando a Teoria da Relatividade Especial sem conhecer as equações originais e errando drasticamente na conclusão da expansão do universo na Teoria Geral.

Estes exemplos têm alguma afinidade.  Com soluções corretas a partir de métodos não convencionais, os físicos em questão obrigatoriamente depararam-se com acontecimentos descontínuos dentro dos seus campos de observação.  Porém, seus focos de atenção estavam obviamente destacados da realidade imediata, eram componentes abstratos que não serviam à sobrevivência deles mesmos.

Nesses casos, a genialidade aproxima-se da paranormalidade.  As previsões de acertos notadamente aleatórios, de alta significância e pouco ortodoxos nos induzem a presumir que fenômenos paranormais tenham ocorrido na vida destes indivíduos, com estabelecimento de links não intelectivos.  Embora, inegavelmente, fossem superdotados, suas manifestações geniais produziram-se a partir de processos acausais e extra-cerebrais, característicos da paranormalidade.

Neste ponto eu concluiria dizendo, por extensão, que a paranormalidade está associada, de alguma forma, às características de personalidade dos indivíduos, o que a incluiria no âmbito de uma possível Psicologia do Paranormal.

E, pela exposição feita, a genialidade seria a superdotação acompanhada de paranormalidade, embora esta última, por ser uma manifestação da personalidade, possa ser encontrada na população em geral.  Talvez, daí a aparente contradição entre as pesquisas com a Mensa e as do Dr. Ferraz Salles:  os universos populacionais de onde foram retiradas as amostras eram dissimétricos, além do Dr. Salles aplicar técnicas facilitadoras do link com o exterior.

Partindo da pressuposição de que o paranormal tem psicologia própria, fica interessante salientar a hipótese de que características hereditárias ou originárias de mutações genéticas ou cromossomiais poderiam ser responsáveis pela paranormalidade.  Nesse caso, os estudos de Hollingworth, realizados com crianças supostamente superdotadas intelectualmente, com QI superior a 180, fundamentalmente na área da coordenação psicomotora, e que descartaram a influência de consanguineidade parental, não se aplicariam ao paranormal.

Porém, os de Rosenberg, especificamente direcionados ao superdotado, não do ponto de vista genético mas estritamente psicológico, podem ser transferidos aos paranormais, principalmente porque a pesquisadora aborda a psicologia de indivíduos considerados "estranhos".  Quanto maior a razão que os diferencia da população considerada normal, mais reações de baixa auto-estima e de problemas na capacidade de adaptação social deverão surgir.  Dessa forma, tanto quanto o superdotado intelectual, o paranormal merece atenção especial, ainda que as dificuldades antepostas para tal possam parecer praticamente intransponíveis, mesmo porque o fenômeno paranormal, na maioria das vezes, é incontrolável (veja-se a psicocinese e o poltergeist).

Para finalizar, o roteiro a seguir sugerido, a título de projeto, transposto da própria Psicologia do Superdotado, poderá perfeitamente aplicar-se ao paranormal:

-

Conceito de paranormal.

- Característica e identificação do paranormal.
- Aconselhamento e orientação do paranormal.
- Identificação de sub-realização e problemas pessoais do paranormal.
- Apoio psicoterápico do paranormal no caso de problemas específicos.

PSICOLOGIA DO AUTISMO

O autismo, também conhecido como síndrome de Kanner, merece um capítulo especial dentro da psicologia haja vista que as pesquisas sobre sua etiologia e sobre sua psicoterapia encontram-se ainda em fase de andamento, sem uma definição precisa.

Uma característica importante da criança autista é a aleatoriedade na seleção dos estímulos que não se tornam hierarquizados.  Isso significa que o autista é uma criança completamente dispersa na atenção, de forma que torna-se impossível para ela estabelecer contacto com o mundo exterior.  Do outro lado, o terapeuta, por sua vez, não possui os dados subjetivos do autista para que possa estabelecer um rapport, elemento imprescindível nos tratamentos psicológicos e psiquiátricos.

São várias as correntes que procuram dar uma explicação razoável para o problema.  Uma delas, de natureza psicológica, afirma que a criança autista é sempre uma criança que não participa do desejo materno.  Assim, ao contrário de uma psicose simbiótica e, não sendo objeto do desejo materno, não teria a criança a capacidade de mirar-se no espelho do outro de maneira a tornar-se incapaz de elaborar seu próprio desejo, que seria o desejo do outro e, nesse caso, tornar-se-ia impossibilitada de distinguir o exterior e de construir um ego.  Faltar-lhe-ia inclusive o narcisismo primário que sustenta o ego tanto quanto as relações com o outro.  Nesse ponto, deve-se chamar atenção que a ausência de um narcisismo primário estruturante da personalidade estabelece um gancho com outras questões de ordem neuroquímica e biológica, já que o narcisismo primário é um conceito inicial de desenvolvimento psíquico.

Como exemplo, foi verificado que a administração de fenfluramina em pacientes autistas severos provocaram melhora nas suas condições de socialização.  A alteração dos níveis de serotonina nas suas plaquetas sanguíneas mostravam-se alteradas sob o efeito da amina e posteriormente a criança, após algumas aplicações, mantinha-se um tempo mais longo com atenção mais socializada.

Lembremos que a serotonina é fundamental para o mecanismo da atenção e, em consequência, para a introjeção de elementos psicológicos capazes de construir um narcisismo primário.

Finalmente, a corrente marcadamente biológica e etiopatogenética, aceita que a criança autista teria sido um feto superdesenvolvido neuralmente que, estando no útero isento de estimulações, teria embotado seu poder de selecionar estímulos pela falta de uso, por algum tempo, de muitos neurônios já preparados para tal.  Aquela porção cerebral que não teria sido afetada, por exemplo, a sonora (batimentos cardíacos da mãe), por ter ficado incólume passa a assumir o papel central da atenção do autista, o que o faz apresentar para os outros uma superseletividade aleatória dos estímulos, impossibilitando o contacto.

Os dois pontos básicos, entretanto, permanecem independentes da linha teórica escolhida: distúrbio profundo da atenção e incapacidade de relacionar-se socialmente, simbolicamente.  O sistema reticular de ativação ascendente assume papel inequivocamente especial no primeiro caso.  Do ponto de vista parapsicológico nós poderíamos dizer que, sendo o SRA o sistema sede dos fatores seletivos paranormais, especificamente chamados fi e , problemas na neurotransmissão de sinais por esta via, irão provocar certamente distúrbios mais ou menos graves da atenção.  O Dr. Ronaldo Dantas estendeu a idéia para as funções eferentes motoras, relacionadas à psicocinese, chamando-as de pi e tau.  Este conjunto de fatores seletivos, se afetados conduzirão o paciente, no caso autista, a desconectar a realidade visto estar impossibilitado, por exemplo, de ativar a instância Omega do aparelho psíquico que faz o teste da realidade.

Como resultado, ficam prejudicadas todas as ações que deveriam visar a um objetivo definido e necessário à vida.  A comunicação com o autista, assim bloqueada e tendo em vista nossa exposição parapsicológica, só seria possível com a intervenção de uma ligação direta com seu terapeuta.  A minha sugestão é que a terapia do autismo deva se utilizar de técnicas parapsicológicas de relaxamento com intervenção de um paranormal no setting do tratamento.  A introdução de telepatia fica sendo, ao lado das técnicas convencionais baseadas nas diversas linhas especulativas, fator de integração e de treino da atenção e elemento importante para se fixarem balizamentos sociais no paciente.

PSICOLOGIA PROFUNDA

Devida a Jung, a Psicologia Profunda trata essencialmente das manifestações arquetípicas do inconsciente coletivo.  Mais global que a Psicanálise, difere desta última por reconhecer a influência de padrões de comportamento ageográficos e atemporais, pertencentes à humanidade em geral.  Tais padrões foram cognominados arquétipos, comuns nas condensações oníricas dos sonhos, nos delírios e alucinações esquizóides, nos mitos e em certas situações vividas pelas pessoas em casos de grande mobilização afetiva.

Os arquétipos, dentre os quais se pode inserir o complexo de Édipo, seriam formas psicóides, significando com isto não serem nem exclusivamente materiais nem psíquicos, mas de natureza psicofísica.

O reconhecimento de um inconsciente coletivo preenchido pelos conteúdos arquetípicos nos leva a pensar na adimensionalidade da transmissão cultural e dos comportamentos humanos, conduzindo-os a um primórdio de psicologia transindividual e transgeracional.

O fato de ser adimensional levou Jung a relacionar o arquétipo a eventos coincidentes significativos.  Assim, a percepção extrasensorial seria um produto básico da mobilização arquetípica entre os indivíduos envolvidos no processo paranormal.

A lei que regeria as coincidências acausais foi aproveitada de Kammerer e chamada lei de sincronicidade, que fixa relações locais entre eventos sem conexão causal, tal como em ESP.

Assim, ao por energia e tempo, o universo como um todo seria regido também pelo par acausalidade - conexão significativa, como se fossem dois tipos de universos transversais, conforme também havia imaginado Schopenhauer.

As coincidências significativas não seriam fortuitas, mas dirigidas por um contínuo de serialidade, isto é, com uma natureza inercial, as coincidências tenderiam a repetir-se da forma mais improvável.  Em geral, as pessoas não estariam preparadas para observá-las, mesmo porque isto as levaria a uma ambiência fora da normalidade do cotidiano.

Embora a sincronicidade represente uma alternativa para a ESP, ela foi deduzida teoricamente pelo psiquiatra suíço de sua própria Psicologia Profunda.  Sua teoria psicológica é fundamental para interpretação dos mitos mas a teoria da sincronicidade tem sido muito criticada pelos especialistas parapsicológicos que, além da acausalidade, procuram sempre encontrar uma relação causal e lógica entre os eventos paranormais vis-à-vis a recepção e a transmissão telepáticas, clarividentes e precognitivas.

PSIQUIATRIA

Muito misteriosa é a questão das psicoses.  Embora da idade da humanidade, as psicoses ainda não apresentam abordagens psicológicas ou neuroquímicas capazes de elucidar o âmago dos problemas nelas envolvidos.  Nós já temos um approach bem aproximado através da Psicologia Transpessoal dos estados ampliados, ou alterados, de consciência, que foi objeto sintético de um capítulo anterior.  Porém, as psicoses, ao contrário dos EAC, não são deflagradas por técnicas ou por ingestão de substâncias químicas.  Parece que as psicoses, à frente a esquizofrenia, surgem ou brotam, no dizer psiquiátrico, espontaneamente ou sob efeito de situações estressantes, variáveis de indivíduo a indivíduo.  Embora aparentemente simples, esta diferenciação é usualmente aceita nos meios psiquiátricos: a psicose espontânea é chamada endógena, originária de etiologia marcantemente desconhecida; a psicose reativa expressa uma atitude psíquica de reação a um fator agressivo à personalidade do sujeito.  Este último tipo está mais relacionado à Psicologia das Psicoses, que fará parte de um capítulo específico.

Sendo assim, tratar-se-á, nesta Psiquiatria, de psicoses endógenas.  Nesses casos, a pergunta é: por que, ou como, surgem naturalmente, comportamentos psíquicos esdrúxulos em sujeitos que normalmente não apresentavam sintomas desta natureza?

Os possíveis mecanismos bioquímicos da esquizofrenia vêm, a seguir sintetizados, como forma de mostrar claramente ao leitor que algo de teoria e da prática psiquiátricas está a descoberto, mas sem envolvimento de questões místicas.

Foi demonstrado que na urina de esquizofrênicos aparecem com frequência quantidades facilmente detectáveis do DMPEA (dimetoxifeniletilamina), conhecida como "mancha rosada" nos cromatogramas em papel.  O DMPEA é um derivado hidroximetilado das catecolaminas (acetilcolina e nor-epinefrina), que talvez possa sugerir uma baixa ação dos inibidores colinesterase e ortometiltransferase. Suspeita-se, com forte razão, que este derivado metilado participe do metabolismo esquizofrênico, remetendo à questão hereditária ou genética da doença.  Dentro da questão dos fatores proteínicos do plasma sanguíneo, é interessante ressaltar-se que de um paciente esquizofrênico, retirada uma certa proteína do soro e injetada em um paciente controle, este último passou a apresentar sintomas esquizofreniformes.  Esta proteína foi chamada taraxeína.  Supunha-se ser uma beta-globulina, anticorpo que se dirigia à área septal do encéfalo.  Na população de SQZ em geral, somente 6% apresentam elevação dos níveis desta proteína, embora tenha provocado catatonia em símios por experimentos controlados, o que sugeriria um fato exclusivamente químico para a regressão catatônica em humanos.

Dos aminoácidos cuja razão de transporte é modificada pelo fator proteínico, o triptófano, que na população de controle tem 2% dirigidos à produção de pentahidroxitriptamina (serotonina), tem nos esquizofrênicos, sua velocidade aumentada, provavelmente por erro de ação da sua hidroxilase associada, com provocação de metabólitos tóxicos e elevação dos níveis séricos.

Têm sido usadas a clorpromazina e as butirofenonas (haloperidol), como antipsicóticos para alteração da taxa de acumulação de GABA (ácido gama aminobutírico) derivado do aminoácido glutâmico e noradrenalina nas células, bem como redutores da serotonina no metabolismo do triptófano.

Bem, estas questões químicas, talvez de difícil acesso, nos conduzem à afirmação de Cameron e Payne, em Mayer-Gross e Slater, em seu Compêndio de Psiquiatria, de que 50% dos casos de esquizofrenia devem-se a "falhas no mecanismo de atenção", com produção de pensamento superinclusivo, isto é, sem seleção de estímulos aferentes.  Evidentemente, se não há seleção de elicitação, o pensamento se desorganiza e, com ele, toda a personalidade e todo o comportamento.  Por outro lado, tem sido dada atenção especial ao balanço entre a dopamina e a acetilcolina, que, do ponto de vista da psiquiatria clínica, parece abrir novos caminhos para compreensão das esquizofrenias. (Obs.: no século XXI isto está comprovado).  As beta endorfinas não foram estudadas.

A questão do pensamento superinclusivo nos conduz a raciocinar sobre os fatores de repressão parapsicológicos fi e , enquanto a alusão ao balanço dopaminérgico, este de influência acentuada na regulação motora exercida pelos gânglios da base, nos leva a pensar, também, nos fatores antipsicocinéticos do Dr. Ronaldo Dantas, do IPPP, que ele chamou de pi e tau.  Embora estes elementos de repressão paranormal estejam todos associados à noção de link mente-matéria,  é-nos importante relembrar de suas definições, isoladas, nos estudos sobre curas paranormais, pelo citado pesquisador pernambucano:

- "a função fi atua bloqueando o acesso concomitante ao córtex cerebral de todos os pulsos aferentes, impedindo uma desorganização da consciência e recrutamento generalizado do córtex com produção de crise convulsiva"

- "diferentemente da função fi, que age sobre estímulos físicos que chegam aos receptores, a função impede que alcancem a consciência as informações universais aventadas na primeira Lei da Parapsicologia".

Neste ponto, vale salientar que a primeira Lei da Parapsicologia é a que determina, pela observação dos fatos paranormais, que o aparelho psicológico não está restrito aos limites físicos do sistema nervoso.

Continuando com as definições do Dr. Ronaldo Dantas:

- 'a função pi seria um mecanismo psíquico pelo qual ocorre uma inibição de determinados impulsos eferentes do organismo.  Sem essa função, estaríamos em constante processo de espasticidade, secreção endógena etc."

-  "a função tau funciona de forma análoga à função pi, só que inibe a atividade efetora paranormal, isto é, psicocinesia".

Tais definições, precisas, nos levam a considerar que o mecanismo paranormal do link está adimensionalmente presente e que é, de sua inibição pelos fatores de repressão parapsicológicos, que a existência sensorial é mantida.  Com isto, as falhas porventura surgidas na ação destes fatores irão promover alguma forma de alteração nas relações normais do ser humano com o mundo físico.

Embora tenhamos sido criticados pela Dra. Glória Lintz Machado, nossa amiga e colega psiquiatra do IPRJ - Instituto de Parapsicologia do Rio de Janeiro, nós produzimos estudos que relacionaram algumas psicoses a falhas repressivas do processo paranormal.  Pareceu-me que suas críticas tinham mais uma conotação política do que propriamente meritória, razão por que continuamos com nosso pensamento.  Nós simplesmente pensamos que disfunções paranormais na área dos processos cognitivos podem mobilizar todo um cortejo esquizofrênico paralelo e, também, chamamos tais disfunções, que obviamente podem ter a causa em afecções nos sistemas químicos de utilização dos neurotransmissores, de psicoses universais ou falsas psicoses.  É evidente que se os processos paranormais forem eclodidos sem controle cortical, o sujeito estará, no mínimo, inapto para o universo da percepção sensorial, isto é, existência cotidiana e reafirmando, e interpretando, ao mesmo tempo, de toda esta longa exposição das hipóteses diversificadas sobre as psicoses, que as psicoses universais, oriundas de aberturas no processo paranormal seletivo do conhecimento, não seriam as psicoses locais, restritas ao âmbito espaço-temporal, mas sim falsas psicoses, que deveriam ser tratadas por parapsicólogos ou terapeutas com formação parapsicológica, capacitados a traçarem diagnósticos diferenciais.

Finalmente, além da hipótese conclusiva de que falhas mais graves na função tau poderão conduzir à RSPK, nós acrescentaríamos que, no caso da função pi apresentar defeitos, com desequilíbrio nas secreções endócrinas, isto levará também a descompensações na esfera cognitiva regulada pelo fator fi o qual depende da normalidade da cadeia de reações eletroquímicas que sustentam toda a atividade neural.  Tal raciocínio nos soa como novidade, estabelecendo eles de ligação entre os vários fatores repressivos e elementos de diagnóstico para algumas disfunções psíquicas.

PSICOLOGIA DA GESTALT

Nós sabemos que uma diferença manifesta entre o processo cognitivo normal e o paranormal é que, neste último, não se percebe uma conexão lógica, ou racional, entre o evento e o conhecimento dele.  Esta subversão, que na nossa teoria dos psicons exige uma velocidade de sinal supralumínica, fica bem clara na telepatia, na clarividência e na precognição.

Pois bem, a Gestalt, ou percepção da forma ou da configuração, como um todo, teve sua psicologia, elaborada por Kofka, Köhler e Wertheirmer, iniciada a partir do fenômeno do insight.  Verificou-se que macacos, sob tensão da fome, eram capazes de solucionar problemas espaciais relativamente complexos, como se se deslocassem da situação-problema para ter uma visão global.  Nesse sentido, tal como em golfinhos, ratos e papagaios, um tipo de intuição, que se supõe não ter relação com a racionalidade, é colocada em ação.  Nenhum signo verbal é emitido, nenhum aprendizado anterior acontece e o conhecimento de solução do problema dá-se instantaneamente.  Um verdadeiro fenômeno criativo que, pela certeza de sua aplicação, nos obriga a citar Einstein: "As palavras ou a língua, escrita ou falada, parecem não ter função alguma no mecanismo do meu pensamento.  As entidades psíquicas servindo como elementos no meu pensamento, são certos signos ou imagens mais ou menos claros, que podem ser reproduzidos e combinados intencionalmente....  Contudo, do ponto de vista psicológico, esses jogos combinatórios parecem construir o aspecto essencial do pensamento produtivo, antes que surja alguma ligação com construções lógicas verbais, ou outra espécie de signos que possam ser comunicados a outros".

Embora possa parecer um verdadeiro absurdo, eu saliento haver semelhanças entre o comportamento intuitivo dos animais e as origens não lógicas do pensamento einsteiniano, sendo a maior delas a que estamos chamando de insight.

Tanto quanto os animais, os jogos combinatórios que promovem algumas soluções para o ser humano, tomando Einstein como exemplo extremo, são incomunicáveis a outros e fogem de qualquer racionalidade.  Os mecanismos do insight, como a tensão psíquica após maturação das condições problemáticas, estão exaustivamente estudadas, diferindo enormemente do processo de ensaio-erro ou de aproximações sucessivas.  Mas são mecanismos observáveis, não explicitando as condições internas dos sujeitos ou o como chegam a soluções corretas sem interferência da lógica.

Em outros termos, o insight permanece sem explicação razoável, aproximando-se bastante do conhecimento holístico que envolve a cognição paranormal através do que temos conceituado frequentemente como link mente-matéria.

PSICOLOGIA DAS NEUROPSICOSES

A Dra. Isa Wanessa Rocha Lima, psicóloga do IPPP - Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, elaborou um estudo sobre a interpretação do poltergeist como mecanismo de defesa paranormal, objeto de sua tese de pós-graduação para o referido Instituto.

Sua idéia é de que o poltergeist poderia ser uma manifestação neurótica exteriorizada sobre o universo físico, porque os mecanismos de defesa inconscientes do ego, tais como a denegação e a racionalização, dentre vários outros identificados por Anna Freud, buscam manter recalcados conteúdos hostis que povoem as instâncias mais profundas da psique.  Em geral, têm-se as neuroses fóbicas (ansiedade), as obsessivo-compulsivas e a histérica (conversiva), como sintomas colocados em ação pelos mecanismos de proteção.  Na verdade, há duas tendências do fluxo psíquico que se encontram, provocando o conflito que se desloca para o sintoma.  Assim, ao mecanismo de defesa que dá lugar ao poltergeist, nós podemos chamar de "externalização".  É bem provável que a Dra. Isa Wanessa tenha identificado uma forma de neurose alternativa, com sintomatologia e proteção próprias da paranormalidade.

Feita esta breve digressão sobre neuroses e poltergeist, iremos introduzir o leitor na falha fundamental (forclusão) supostamente ocorrida na psicose que, por distinção com a falsa psicose universal estudada na Psiquiatria, poderá ser chamada de psicose local própria do estudo da Psicologia das Psicoses, criada por Lacan.  Tal falha forclusiva Lacan define da seguinte forma:  "É um acidente desse registro (simbólico) e do que ali se consuma, a saber, a forclusão do Nome do Pai no lugar do Outro, e no fracasso da metáfora paterna, que designamos a falha que dá à psicose sua condição essencial".

A forclusão, sendo assim, é suposta ser um acidente psíquico baseado na rutura da cadeia significante substitutiva do Outro materno.  Mas o problema, que impediria o movimento livre da formação do Eu, baseia-se na noção de um direcionamento da pulsão para o exterior.  O corte exercido pela nomeação simbólica do pai, metaforizaria esta tendência comum ao ser humano de suprir a falta da mãe, criando um desejo de ser-lhe o objeto fálico.  Porém, diferentemente dos animais, o que provocaria, em última instância, a não consumação do preenchimento da falta seria exatamente a renegação, ou percepção negativa, da ausência de pênis na mãe, culpada pela menina por não possuí-lo ou pelo menino por sentir-se ameaçado de castração.  Este repúdio à percepção correta da condição sexual da mãe impossibilitaria o aparecimento do Outro.  Em consequência, não haveria mais a que substituir simbolicamente.  Porém, que alucinação esotérica causaria a renegação e o redundante chapamento no Outro?  E, também, porque a necessidade de um Outro a que se destinaria o desejo da criança?  A noção deste "objeto outro" (a) não sendo efetivado introduziria uma simbiose estática e indiferenciada, sustentada exclusivamente pela estreita comunicação não verbal, ou pré-verbal, que só poderia ser remetida à prevalência de transmissão não sensorial ou, em outras palavras, à exacerbação de uma paranormalidade original que facultaria a indistinguibilidade dos personagens, originando a percepção negativa.

À semelhança das psicoses universais, os distúrbios locais, por conseguinte, seriam fruto prematuro de desbloqueio de uma quinta função repressiva paranormal basilar para o desenvolvimento de um Eu diferenciado do mundo físico e da realidade externa, como função de um link permanente com o Outro.