n 1/P = Informação
(Nova)
1a - PARTE
Está em meu poder
o livro "Memórias de um doente dos nervos", de Schreber. Este livro foi-me
fornecido pelas psicanalistas Suzana Nolasco e Alzira Costa, ambas minhas
professoras no CENA - Psicanalistas e Cultura - RJ. Trata-se de uma
exposição extremamente rica de Schreber, o caso psiquiátrico mais conhecido e
estudado pela psicanálise e que propiciou a Freud a inserção desta ciência no
campo da paranóia. Naturalmente eu, como formando em psicanálise, poderia
ler o caso somente sob o ponto de vista analítico. Todavia, como
parapsicólogo, fiquei deveras impressionado com a descrição de Schreber do seu
sistema de delusões, com conteúdos e significação muito semelhantes aos chamados
"estados ampliados da consciência" ou então "experiências culminantes" e que de
uma certa forma, coincidiu com os dados obtidos na minha tese "Generalização do
Princípio da Incerteza e Teoria da Relatividade Histórica". Tal tese, que
tive a oportunidade de apresentar aqui mesmo nesta cidade, por ocasião do
Congresso Nacional de Parapsicologia e Psicotrônica, encontra-se desenvolvida no
livro "Tópicos Avançados em Parapsicologia" e pode ser dividida em três partes:
1o O princípio da incerteza de
Heisenberg, que aplica-se a entidades dinâmicas não
comutativas da física quântica, tais como espaço-momento
linear, pode ser obtido da clássica teoria das medições.
Então, a incerteza fica generalizada para sistemas
microscópicos e macroscópicos.
2o No campo da relatividade
geral, quaisquer medições realizadas por indivíduos
diferentes sobre uma mesma quantidade dinâmica,
apresentar-se-ão, levemente ou não, desiguais, tendo em
vista que tais indivíduos encontram-se localizados em
espaços-tempos diversos e portanto suas observações
ficam sujeitas a campos gravitacionais de intensidades
diversas, alterando diferencialmente as geometrias
locais.
Estas duas condições, tal como exposto,
impossibilitariam uma comunicação perfeita, entre as
pessoas, a não ser que, em algum nível de consciência,
destituído de espaço, de tempo e de massa, algum link de
consciência estivesse estabelecido, de uma forma
coletiva. A informação envolvida prescindiria de
toda materialidade e seria chamada semântica, em
oposição a informação sintática, significante e
material. Tal informação semântica e imaterial
estaria quantizada em uma partícula que denominei
Psicon, associada a uma massa em movimento imaginária e
a uma onda plana perfeita.
3o Com a aplicação dos
princípios 1 e 2, ficava claro ser o Psicon um quantum
coletivo que ocupava todo o espaço-tempo real, formando
um éter imaginário. Estas duas conclusões podem
ser melhor identificadas no meu último livro, "Psicons -
Do Real ao Imaginário".
Todavia, a cartografia transpessoal da consciência
humana indicava a existência de estados intermediários
entre a consciência individual, o eu, e a consciência
coletiva, o vácuo ou éter psicônico.
Tais estados, que Schreber descreve com detalhes, foram
matematicamente desenvolvidos naquele referido
Congresso, podendo ser expressos, em termos físico -
linguísticos segundo a figura a seguir:
Probabilidade P |
1/P |
Informação
Sintática H (bit) |
Níveis de
Consciência |
+ ∞ (*) |
0 |
- ∞ |
PSICON |
2 |
0,5 |
- 1 |
GRAU DE LINK |
1 |
1 |
0 |
EIGENSTATE |
0,5 |
2 |
1 |
ESTADO
BORNIANO |
0 |
∞ |
∞ |
TOTAL PERDA
SEMÂNTICA |
Obs.: Os níveis de consciência estão associados a
probabilidades e informações sintáticas sobre suas
localizações no espaço-tempo.
Os estados semânticos ou coletivos estariam acoplados a
informações sintáticas negativas, o que é natural, e
vinculados a probabilidades maiores que 1.
Os graus de link iriam de P > 1 a P + ∞ (Psicon).
O Eigenstate seria o estado em que ocorre a normal
solução de equação de Schroedinger, podendo ser visto
como não probabilístico determinístico. Os estados
citados abaixo, borniano e virtual e de H = ∞, descem no
sentido das probabilidades fisicamente possíveis até
atingir o Real, como é dito em Psicanálise, o
exclusivamente material (uma forma teórica, de ausência
de consciência ou de prevalência absoluta dos aspectos
puramente materiais da realidade).
Mas, nós vamos nos concentrar em alguns dizeres de
Schreber, identificando-os aos estados superiores da
consciência.
2a PARTE
A figura a seguir, tão do gosto de Horta Santos, permite
uma visualização de gradação de tais estados:

Os estados psicônicos, vacuolares ou etéreos, estão
hachurados. Independem de comunicação sensorial e
ligam os seres humanos em permanente coletividade
através de um link extra-sensorial. A comunicação
sensorial dá-se pela via física e nada mais faz que
introduzir dimensões punctuais em algo pré-existente.
Os triângulos invertidos explicitam a ampliação das
consciências, para cima, e a atuação de fatores
seletivos no córtex, evitando seu hiper - recrutamento
neuronal.
O estudo qualitativo de tais estados ampliados de
consciência levou Ring, da Universidade de Connecticut a
traçar o seguinte mapa:
Vigília |
 |
Pré - consciente |
Psicodinâmico |
Ontogenético |
Transindividual |
Filogenético |
Extraterreno |
Superconsciente |
Vácuo
(holo-unidade) |
Segundo o autor, a partir da consciência transindividual
o indivíduo já penetra em estados coletivos, sendo o
primeiro deles equivalente ao estado jungiano. Os
níveis anteriores assemelham-se a estados freudianos
individuais, que culminam na regressão ontogenética a
experiências perinatais. A possibilidade de
mapeamento da consciência advém exatamente em estados
neuronais hipofuncionais, como, por exemplo, no caso de
meditação profunda, com redução do lactato do sangue e
possibilidade de apreender conscientemente informações
que de outra forma permaneceriam inconscientes.
Mas, por outro lado experiências de Grof com LSD, de
fórmula molecular semelhante à da serotonina,
produzia estados alucinatórios e delirantes parecidos
com os descritos por Schreber. E, certamente os
conhecidos inibidores da monoaminaoxidade produzirão os
mesmos efeitos.
3a PARTE
Schreber é até hoje considerado o paciente mais famoso
da história da psiquiatria e da psicanálise.
Descoberto por Freud, seu livro de memórias foi objeto
do principal trabalho psicanalítico sobre a psicose
conhecido por "O Caso Schreber" (Freud, 1911).
Sendo um paranóico, é natural que Schreber fizesse seu
livro figurar entre "as obras mais interessantes já
escritas, desde que o mundo existe". Megalomania à
parte, o fato é que o livro - relato de suas
experiências como doente mental e de seu vasto sistema
delirante acabou por se tornar a principal referência
clínica dos estudos sobre a paranóia.
Todavia, não será do ponto de vista psicanalítico que
analisaremos o delírio de Schreber. Antes, suas
experiências revelam aspectos parapsicológicos e
sincronísticos próprios da paranormalidade.
Isso pode vir a significar que ao lado do paradigma
social em que se transformaram a psicanálise e a
psiquiatria, não fica absolutamente excluída a
parapsicologia como estudo legítimo e paralelo,
concomitante com a vivência paranóide.
Enumeraremos de A a G algumas frases e conceitos de
Schreber, formulados em 1903 e posteriormente faremos
uma análise parapsicológica, coincidente ou jungiana,
com a mesma correspondência de A a G, de forma que o
leitor ou o ouvinte possa estabelecer relação das
experiências paranóides com a paranormalidade.
Vejamos então primeiro as descrições de Schreber e
posteriormente sua correspondência com a análise
parapsicológica, tal como a concebemos.
A - Conheci alguns casos, citados pelas vozes que
falavam comigo, nos quais as pessoas em questão teriam
tido, na vida posterior, uma posição substancialmente
inferior à da vida anterior, o que talvez consistisse
uma espécie de punição.
B - Apesar disso, em vários casos, principalmente no que
diz respeito à alma de Flechsig e à de von W., os fatos
em questão estão para mim completamente fora de dúvida,
uma vez que tenho comprovado durante anos a influência
direta destas almas sobre o meu corpo.
C - Deus soprou o vento e eles desapareceram, contém
muito provavelmente uma verdade sólida. No caso,
menciono o Sol apenas enquanto...
D - Ele (Deus) também podia se conectar com algumas
pessoas altamente dotadas, fazer com eles uma conexão
nervoso.
E - As almas a serem purificadas aprendiam, durante a
purificação a língua falada pelo próprio Deus, a chamada
"língua fundamental", um alemão algo arcaico...
F - Finalmente, o destino de todas as almas era mais o
de atingir unidades superiores fundidas com outras almas
para, deste modo, sentir-se doravante como partes
integrantes de Deus.
G - ... a não ser que o deus inferior parece ter-se
sentido atraído pelos povos originariamente de raça
morena (os semitas) e o deus superior pelos povos
originariamente de raça loura (os povos arianos).
4a PARTE
A - Os momentos vividos por Schreber de vozes de
pessoas de vida anterior e punição mostram a extrema
semelhança com a doutrina espírita que, quer queiramos
ou não, sobrevive sobre fatos paranormais.
Seria algo em que estariam envolvidos os seguintes
fenômenos e interpretações:
- channelling |
- telepatia |
- sobrevivência |
- regressão |
- Karma |
- drop-in |
Deve ser considerado que no espiritismo, a interpretação
ingênua da manifestação de entidades já mortas, não
necessariamente exclui vivências transindividuais.
Somente, pode ocorrer não ser possível a manifestação
dentro de um sistema nervoso a não ser de uma entidade
individual, mesmo em caso de drop-in.
Trata-se de uma questão de limitação nervoso do receptor
e não da negação da assimetria entre os universos
psicônicos e de eigenstate.
B - Apesar de comum na paranóia a invasão do corpo do
doente por elementos estranhos a ele, deve ser
considerado que Schreber, em seu sistema, admitia que
seu corpo era formado de nervos e os nervos seriam a
sede da alma.
Desta forma, o que em verdade ocorria era a chamada
"fuga do pensamento", fenômeno psíquico básico da
esquize.
Porém, esta deterioração do eu, genérica nestes casos,
pode ser objetivada como um fenômeno de telepatia e de
cognição ilógica.
Esta cognição é interpretada pelo doente d uma forma
subjetiva, o que, absolutamente não exclui a
possibilidade de ser a causa da afecção.
C - Sem maiores comentários, retiro um excerto do meu
livro "Parapsicologia e Psicofísica" - 1980 - pág. 7,
onde se encontra um relato sintético de Jung: "O
exemplo a que nos referimos respeita a um fato ocorrido
em 1906, quando Jung trabalhava no hospício de
Burgholzli, Zurique. Um esquizofrênico paranóide
que olhava ara o sol, piscava e balançava a cabeça,
disse a Jung que se ele o imitasse "o pênis do sol
mover-se-ia também e esse movimento era a origem do
vento". Em 1910 em meio a antigos manuscritos
gregos de visionários de Mithra, Jung leu: "... e também
será visto o chamado tubo, de origem do vento
predominante. Ver-se-á no disco do sol algo
parecido a um tubo, suspenso. E na direção das
regiões do ocidente é como se soprasse um vento de leste
infinito. Mas se outro vento prevalecer na direção
das direções do ocidente, ver-se-á da mesma maneira o
tubo voltar-se para aquela direção". Acrescente-se
que o doente não possuía cultura antiga e que os
manuscritos só foram revelados após sua alucinação.
Portanto ele não poderia ter retirado aquela passagem do
seu inconsciente pessoal, restando daí por simples
oposição à coincidência parapsicológica, a manifestação
de seu inconsciente coletivo".
D - Transcrevo, literalmente, o que diz José Ferraz
Salles, Presidente da Associação Brasileira para
Superdotados, em "Os Superdotados", 1982, pág. 96: "...
bem como os grandes médiuns espíritas pelo que
conseguimos apurar, têm sido tipos superdotados
intelectuais por hipoxemia fetal e que, com a ioga ou
com os exercícios mediúnicos respectivamente,
desenvolveram ao máximo suas já extraordinárias
capacidades intelectivo-volitivas e supranormais
telepáticas e premonitórias.
A conclusão lógica é que não existe "mediunidade" nestes
casos, mas apenas indivíduos superdotados por hipoxemia
cerebral com capacidades supranormais". Ou, ainda:
"Em segundo lugar lançamos ao público leitor comum os
achados inéditos que trazem luz à descoberta e à
orientação dos superdotados, evitando as interpretações
falsas de considerar, por exemplo, capacidades
mediúnicas, as características supranormais de telepatia
e premonição, comuns nestes indivíduos".
A hipótese de Salles é assim sintetizada: "A hipoxemia
cerebral, conforme descrevemos, conduz então, não só ao
uso dos dois hemisférios, mas ao uso em regime de
excitação maior do que o normal".
E - A língua de Deus de Schreber, em alemão arcaico, nos
faz lembrar de Jung, que sugeriu um deus místico da
guerra, Wotan, que teria assumido o inconsciente
coletivo alemão em 1940. Jung, inclusive, a
posteriori da 2{ Guerra, dizia ter indícios claros de
que Wotan iria manifestar-se conscientemente na
Alemanha. Ele concluiu sua própria percepção da
análise de pacientes alemães que, em sonhos, revelaram a
manifestação arquetípica personificada em Wotan.
Deve ser salientado, todavia, que ao final do Século XIX
na Alemanha, Wagner, dando ênfase a deuses bárbaros da
mitologia germânica, tornava-se precursor do
nacionalismo alemão agressivo, com suas óperas
grandiosas, particularmente o Anel dos Nibelungos.
Porém, somente após a eclosão da guerra é que Jung pôde
referir-se à manifestação guerreira do inconsciente
coletivo germânico. Schreber, ao contrário,
revelou que o arquétipo do deus Wotan era uma presença
acasual e conectada com o fato da realidade dentro de um
universo de natureza imaginária que poderíamos escrever:
Intervalo métrico real → mundo causal
→ t2 >
x2
Intervalo métrico imaginário → mundo acausal →
t2 < x2
Estas duas representações tornam-se claras no cone de
luz de Einstein da relatividade especial:

(*) F - O leitor certamente estará estranhando a
inserção de probabilidades maiores que a unidade.
Ocorre, entretanto, que o psicon não é normalizável.
Sua probabilidade punctual é P = Ψ * Ψ = 1
Isto porque, sendo a fase da onda plana igual a Kx - wt,
a P = e i fase
e - i fase = e° =
1
A integração no espaço será pois
.
Deve ser dito ainda que, mesmo que empregássemos
coeficientes A aplicados à onda plana o resultado não se
alteraria. Se o coeficiente fosse nulo não haveria
onda ou teríamos a indeterminação 0 x ∞ . Estes
dados permitem supor probabilidades entre 1 e + ∞ ,
formando o contínuo transindividual (grau de link).
Tais estados coletivos de consciência são,
parapsicologicamente, extremamente similares à descrição
de Schreber de "unidades superiores fundidas com outras
almas", numa certa forma de ampliação da consciência e
experienciação de estados cada vez mais coletivos e
cósmicos.
G - Deve ser dito que o texto em apreço foi escrito em
1903, isto é, quase 40 anos antes da 2ª Guerra Mundial.
Sabe-se que uma das grandes molas mestras do nazismo
alemão, movimento interno germânico, que propagava a
superioridade da suposta raça ariana, foi justamente o
anti-semitismo que, se por um lado apresentava
características de ordem econômica, por outro revelava
toda a irascibilidade que foi lançada sobre o povo
alemão.
Com relação à tendência anti-semita, haveria a
possibilidade de que Schreber tivesse conhecimento da
inquisição ibérica contra o judaísmo, no século XVI.
Particularmente não sei também se este nacionalismo
alemão já era uma constante na época em que o texto foi
escrito por Schreber, particularmente em relação a
algumas interpretações dos livros de Nietzsche.
Mas, de qualquer forma, ele revela uma consciência
extraordinária, no sentido psicosensitivo, de algo que
iria ocorrer dezenas de anos mais tarde.É muito provável
que a experiência de Schreber, paranóia ou esquizofrenia
paranóide, o tenha conduzido a estados do tipo "grau de
link" ou mesmo de "psicons", em certos momentos em que
se configurava um processo de natureza atemporal.
5a PARTE
Esta parte fica dedicada a uma síntese da Teoria dos
Psicons, tal como apresentada na International
Conference on Psychotronic Research, Carrolton, Georgia,
USA, em dezembro de 1988.
1. Massa em movimento imaginária:
.
2. Psiergia do psicon:
.
3. Onda psicônica associada
.
4. Velocidade de fase (não há grupo)
.
5. Ocupação do espaço -tempo real é total (onda
plana)
6. Tem-se um oceano
coletivo de psicons que, individualmente, cobrem todo o
espaço - tempo.
7. O Psicon pode,
finalmente ser considerado, o quantum de informação
semântica, principalmente porque resolve o paradoxo
Einstein - Podolsky - Rosen.