Parapsicologia RJ - Geraldo dos Santos Sarti

1a AULA

INTRODUÇÃO À PARAPSICOLOGIA

 

Geraldo Sarti

Abril/2008

 

 

A Parapsicologia, que denominaremos Ψ, é o estudo dos fenômenos paranormais.  Entende-se por paranormal o que está além do normal e, por normal, aquilo que pode ser entendido de forma racional pela ciência.

Então, Ψ é o estudo dos fenômenos que não são explicados pela ciência.

As leis básicas da ciência são aquelas formuladas nas áreas da Psicologia, da Biologia e da Física.  Assim, o parapsicólogo deverá ter uma formação ou um interesse pluridisciplinar pelo menos nas áreas científicas citadas.

As ciências biológicas, psicológicas e físicas utilizam-se de instrumentais que as tornem inteligíveis.  Dentre tais instrumentais encontram-se a Matemática, a Estatística, a Química e a moderna Ciência da Computação, no caso podendo ser considerada como Informática.

Os fenômenos Ψ estão espalhados por todos os ramos do conhecimento e podem até ser considerados como participantes da própria vida dos indivíduos, entendendo-se por indivíduos os seres com os quais lidamos no dia a dia,  desde objetos, animais, vegetais, e mesmo os seres humanos.  Estes ramos do conhecimento, que ao longo do tempo individualizaram-se em Economia e suas leis,  Antropologia, Arqueologia, Palentologia, Zoologia, Botânica, Sociologia e os demais segmentos da atividade humana, encontram-se salpicados de paranormalidade, e foram todos construídos a partir da Filosofia que significa amor ao conhecimento.  A questão Epistemológica em Filosofia, ou da Ciência do conhecimento, é indispensável à noção geral de Parapsicologia ou de qualquer conhecimento que vá manter-se ou não.  Epistemologistas como G. Bachelard, T. Kuhn, M. Bunge, P. Feeyrabend, I. Lakatos, k. Popper e mesmo R. Descartes, M. Foucault, J. Piaget, B. Russel, E. Husserl, Hegel tanto quanto os gregos Platão (Sócrates), Aristóteles, Heráclito e Parmênides dentre vários outros filósofos do conhecimento geral, como A. Schoppenhauer, são de muito bom alvitre para o estudo da Ψ.

No Brasil, diretamente envolvidos com Ψ, estão os pensadores filosóficos V. R. Borges, I. C. Caruso e M. A. Machado.  Fora de PSI está F. Malaguti, filósofo (hegeliano) , atualmente na Alemanha.

Apesar destes chamados pré-requisitos para o estudo de Ψ, ainda assim um indivíduo leigo pode interessar-se e desenvolver suas próprias idéias e experiências no tema.  A princípio, o próprio interesse do investigador considerado leigo basta para que ele estude o fenômeno, dependendo do que se chama de "grau de estranheza".  Há fenômenos tão anômalos que mesmo uma criança pode ter acesso a eles e desenvolver suas  próprias idéias.

Em segundo lugar, a participação de um investigador Ψ parece ser o bastante para que o fenômeno se produza, de forma inexplicável.  Meu ponto de vista é que Ψ está ocorrendo a todo o momento, sendo generalizado entre os seres, vivos ou não, e imprescindíveis, no caso do ser humano, para a integridade do próprio ser.  Excessos de PSI todavia levam os humanos à desorientação e, nesse caso, a interferência parapsicológica de investigadores com prática terapêutica torna-se indispensável.

Como, pelo visto, a pesquisa Ψ atua sobre instâncias profundas da mente e da natureza, em geral sob nosso desconhecimento e descontrole, admito que tal pesquisa deva ser intrinsecamente carregada de riscos à própria integridade que Ψ assegura ao ser humano.  Uma questão fundamental que atinge o cerne desta questão é o controle pelo Homem do fenômeno quando então perspectivas novas de compreensão da natureza e seu uso construtivo, presume-se, poderão revelar potencialidades inimagináveis no momento atual da evolução humana, científica e tecnológica.

RELIGIÕES

O filósofo positivista Comte elabora a chamada Lei dos Três Estados, segundo a qual a humanidade tende a formular suas explicações dos fenômenos naturais segundo os pontos de vista teológico, metafísico e científico.  O primeiro, ocorrido em eras pregressas do desenvolvimento humano, dizia respeito às interpretações sobrenaturais dos acontecimentos que cercavam os seres.  Devido à de elevada dose de ignorância, os eventos eram deificados por eles.  Posteriormente, com o advento dos primórdios sócio-políticos mais organizados, o Homem foi obrigado a mesclar o sobrenatural e divino com o científico.  Atualmente, com sociedades econômica e politicamente desenvolvidas e organizadas, o ser humano evoluiu sua tendência observacional para o estágio puramente científico (OBS.: como se as questões científicas tivessem sido solucionadas, poderosa parcela da humanidade ingressou no estágio 4.  Uso tecnológico).

Sob este prisma, qualquer tradução sobrenatural do fenômeno Ψ tornar-se-ia inadequada, incluindo-se a deificação como origem primeira e última do desconhecido.  Ainda que desconhecido, o imaginário dos seres caminha inexoravelmente para utilizar-se do método científico e não religioso de Ψ, evitando-se um retrocesso.  Isso pode todavia ser um erro drástico, mesmo porque na área que estamos tratando parece que os dogmas científicos mais avançados ainda assim são impotentes na definição exata das leis que governam a parapsicologia.  Além disso, o culto religioso é rico na fenomênica paranormal e parece exatamente que este fato está associado à aceitação das divindades.  Aproveito para dizer que relacionando a lei de Comte a Ψ, estamos aproximadamente muito afeitos à interpretação sobrenatural, mesmo sob a perspectiva metodológica, já que a ordem científica apresenta-se inoperante.

Uma função básica de parapsicologia é a abstração religiosa e a penetração no buraco do inusitado paranormal sem desprezo do sobrenatural mas caminhando no sentido positivo da evolução comteana e não retrocedendo aos estágios preliminares, o que significaria um retorno involutivo e uma relegação ao segundo plano do conhecimento humano adquirido até agora.

ARTES

Entendo por arte uma distorção objetiva da representação da realidade.  Como expressão de tal distorção, a arte induz ao receptor da emoção do artista uma emoção qualquer que só está definida em sua origem de representação, isto é, a realidade.  O desvio interpretativo que impõe o artista aos objetos de sua percepção às vezes proveniente de uma alteração neural com relação ao comum das expressões emotivas, é o que se chama em geral  de criatividade.  Eventualmente, sem passado real ao qual o artista deva se reportar, ele "cria" a novidade como se ela proviesse do nada, apenas do seu interior isolado.  Neste momento, quando a inspiração parte não da realidade percebida sensorialmente mas de algo que só se torna real pela utilização de uma técnica apropriada, enfim, podendo ser mesmo uma visão interna, aí a arte ativa o poder materializador de idéia emotiva do artista.

Não se pode falar de arte sem falar na sua materialidade como emoção concretizada.  Mas, a atitude criativa do autor independe às vezes da sua própria vontade, caso das artes psíquicas, ou paranormais, mesmo que ela não seja objetivada por um pincel ou um cinzel.

Em segundo lugar, os aspectos particulares expressionais do artista em geral não são revelados ou programados pois eles são revelados inefáveis e não podem ser declarados.  A origem profunda da arte, excluindo-se algum viés introduzido pela química e pela relação neural, permanece um mistério e a emoção artística criativa assemelha-se muito às formulações científicas aparentemente desprovidas de emoção.  Veja-se como exemplo o trecho da carta escrita por Einstein a Hadamard, respondendo a um questionário para "L' Enseignement Mathématique", publicada em 1952 em "The Creative Process". de Brewster Chiselin, Mentor Books, N Y, 1952, e repetida por Fayga Ostrower, em "Criatividada e Processos de Criação", IMAGO, 1977, RJ:

"As palavras ou a língua, escrita ou falada, parecem não ter função alguma no mecanismo do meu pensamentoAs entidades psíquicas servindo como elementos no meu pensamento, são certos signos e imagens mais ou menos claras, que podem ser reproduzidos e combinados intencionalmente (voluntarily).  Naturalmente há certa  conexão entre esses elementos e conceitos lógicos relevantes.  É claro também que o desejo de alcançar conceitos logicamente interligados constitui a base emocional desse jogo bastante livre (rather vague play) com os elementos acima mencionados.  Contudo, do ponto de vista psicológico, esses jogos combinatórios parecem constituir o aspecto essencial do pensamento produtivo - antes que surja alguma ligação com construções lógicas verbais, ou outra espécie de signos que possam ser comunicados a outros".  O grifo é meu.

POLÍTICA

Em geral, como de comum acordo, os parapsicólogos brasileiros evitam falar em política, pois revelam-se temerosos de que a possível discussão política possa vir a desagradar um ou outro grupo que esteja interessado em manter e usufruir do poder político, no Brasil, partidário, como um sub-produto do Estado que se amplifica às menores hierarquias sob seu comando.  Entretanto, este fato não nos impede de ampliar o estudo da parapsicologia ao domínio da política haja vista que, do ponto de vista do fim a ser atingido,  pretende uma modificação drástica nos conceitos políticos que atuam sobre as sociedades.

Embora a metodologia utilizada em PSI aplique conceitos pré-estabelecidos, o fim a ser alcançado pode contrariar estes próprios conceitos pré-estabelecidos (exemplo: a velocidade máxima do sinal).  Então, como orientação, o método, no anarquismo metodológico científico, é abandonado para abarcar a Parapsicologia e fenômenos afins e anômalos.  P. Feeyrabend é um exemplo, em "Contra o Método", do qual não tenho nenhum registro editorial.

Retornando à política em si, e à sua relação com a sociedade, têm-se dois pólos

1 - O da prevalência do Estado, com poder central sobre a sociedade.

2 - O da prevalência da sociedade, com poder difuso e ausência do Estado.  Nesse caso, os representantes da Sociedade que os mantém como seu organizador são absorvidos na própria Sociedade.

Qualquer sistema político será uma gradação entre estes dois pólos, podendo haver um menor controle estatal e um maior laissez-faire social auto-regulador e vice-versa.

A política associada ao primeiro pólo poderíamos chamar de estadismo absoluto, com poder central, burocracia, planejamento total da sociedade hierárquica.  Do outro lado, com o fim da hierarquia de algum poder central, atinge-se o limite no anarquismo absolutamente difuso, liberdade geral, laissez-faire, regulação interna, utilização de recursos sem o limite imposto pela escassez, etc...  Nesse último caso, sem muito esforço intelectivo, fica óbvio que poderia ser alcançada a desordem social e então os indivíduos da sociedade teriam que se organizar de alguma forma tal que esta organização pudesse alcançar uma "ordem não hierárquica", um mecanismo de feedback negativo (veja-se Cibernética e Sociedade - Wiener).  Repetindo, as variações políticas e suas variantes situam-se parametricamente na referência ao estadismo absoluto ou ao anarquismo difuso.

A Parapsicologia, nos seus âmbitos de investigação e de estudo, ao sinalizar um rompimento epistemológico com a ciência oficial, aproxima-se muito mais do anarquismo contestador do status quo que de um poder de onde promane uma rígida ordem científica.  Esta seria a postura política inerente à Parapsicologia.

ECONOMIA

A economia é produzida pela organização da escassez de recursos.  Ao contrário, se os recursos fossem ilimitados, a organização da abundância poderia acontecer mas de uma forma completamente diferente da desenvolvida pela humanidade que sempre conviveu com a escassez.  Períodos de entressafra obrigam o ser humano a guardar e estocar suas conquistas da safra, mais ou menos, ou consumir com mais moderação os recursos estocados.  Por uma tendência humana envolvida neste movimento de acumulação de riqueza crua, o ser humano, ou por acaso, ou pela sua própria tendência já aludida (retenção anal - fecal neurótica e prazer físico infantil), guarda mais e futuramente terá mais poder que seu vizinho que guardou apenas o necessário à sua sobrevivência.  Esta fase imaginada como primitiva, permitiu a acumulação de bens, propriedades e capital de uma forma, poderíamos dizer, geométrica, tal que os detentores dos bens, comercializassem para os que gastaram seus bens para si próprios.  Havendo um limite de recursos, o processo geométrico de acumulação cria uma desigualdade em que os acumuladores tornam-se ditadores do consumo dos que apenas preocuparam-se com sua sorte.

A figura abaixo sintetiza o nosso ponto de vista da atividade econômica.

0 = Morte

A = Indivíduo que não acumulou

B = Indivíduo que acumulou

A proposta Ψ para a economia, como pressupõe energia a partir do vácuo ou da mente hiperdimensional, parece inesgotável.

Nesse caso:

Observe-se o fim da neurose na ausência de um outro comparativo que servia como atuador.

Vê-se não haver a prevalência original nem de A nem de B, mesmo com o prazer retentivo anal identificado em ambos, mas não um prazer neurótico que se realiza no exercício da sobrepujança.

A produção em "tempo real" (quando houvesse necessidade) bastaria, ao grupo de indivíduos A socializados com o grupo de indivíduos B, independente da tendência neurótica de ambos, devido à ausência de escassez de recursos ou produção em "tempo real" da abundância de recursos, isto é, em tempo imaginário.  O leitor poderá argumentar com muita razão, ser esta uma utopia.  Entretanto, os sistemas envolvidos tenderão, pelo uso de Ψ, a uma tal sociedade em que a injustiça não se faça pela acumulação de bens por uns em detrimento de outros.  O momento, todavia indica uma crise econômica mundial do capitalismo, o modelo de acumulação em base neurótica, mas que parece não terá solução senão a perpetuação, por uma outra forma, diria desumana, da mesma divisão - que há hoje, 2009, das sociedades entre pobres e ricos pois os recursos continuam escassos.