Parapsicologia RJ - Geraldo dos Santos Sarti

XIII SIMPÓSIO PERNAMBUCANO DE PARAPSICOLOGIA

"O CASO SCHREBER DO PONTO DE VISTA
PARAPSICOLÓGICO" 

Geraldo Sarti - ABRAP - IPPP

Julho/2009

ORIGINAL de julho/1995

 

 

ADVERTÊNCIA AO LEITOR

De 1995 até 2009 algumas modificações poderiam ser feitas neste estudo.

Gostaria de realçar apenas uma, relativa ao PSICON  , qual seja:

Ao invés de

Ψ * Ψ =  1  =  P  =  Probabilidade (Convencional)

encontrou-se

Ψ *  Ψ = 1 bit  =  n 1/P  = Informação (Nova)

 

 

 

 

1a - PARTE

Está em meu poder o livro "Memórias de um doente dos nervos", de Schreber.  Este livro foi-me fornecido pelas psicanalistas Suzana Nolasco e Alzira Costa, ambas minhas professoras no CENA - Psicanalistas e Cultura - RJ.  Trata-se de uma exposição extremamente rica de Schreber, o caso psiquiátrico mais conhecido e estudado pela psicanálise e que propiciou a Freud a inserção desta ciência no campo da paranóia.  Naturalmente eu, como formando em psicanálise, poderia ler o caso somente sob o ponto de vista analítico.  Todavia, como parapsicólogo, fiquei deveras impressionado com a descrição de Schreber do seu sistema de delusões, com conteúdos e significação muito semelhantes aos chamados "estados ampliados da consciência" ou então "experiências culminantes" e que de uma certa forma, coincidiu com os dados obtidos na minha tese "Generalização do Princípio da Incerteza e Teoria da Relatividade Histórica".  Tal tese, que tive a oportunidade de apresentar aqui mesmo nesta cidade, por ocasião do Congresso Nacional de Parapsicologia e Psicotrônica, encontra-se desenvolvida no livro "Tópicos Avançados em Parapsicologia" e pode ser dividida em três partes:

1o  O princípio da incerteza de Heisenberg, que aplica-se a entidades dinâmicas não comutativas da física quântica, tais como espaço-momento linear, pode ser obtido da clássica teoria das medições.  Então, a incerteza  fica generalizada para sistemas microscópicos e macroscópicos.

2o  No campo da relatividade geral, quaisquer medições realizadas por indivíduos diferentes sobre uma mesma quantidade dinâmica, apresentar-se-ão, levemente ou não, desiguais, tendo em vista que tais indivíduos encontram-se localizados em espaços-tempos diversos e portanto suas observações ficam sujeitas a campos gravitacionais de intensidades diversas, alterando diferencialmente as geometrias locais.

Estas duas condições, tal como exposto, impossibilitariam uma comunicação perfeita, entre as pessoas, a não ser que, em algum nível de consciência, destituído de espaço, de tempo e de massa, algum link de consciência estivesse estabelecido, de uma forma coletiva.  A informação envolvida prescindiria de toda materialidade e seria chamada semântica, em oposição a informação sintática, significante e material.  Tal informação semântica e imaterial estaria quantizada em uma partícula que denominei Psicon, associada a uma massa em movimento imaginária e a uma onda plana perfeita.

3o  Com a aplicação dos princípios 1 e 2, ficava claro ser o Psicon um quantum coletivo que ocupava todo o espaço-tempo real, formando um éter imaginário.  Estas duas conclusões podem ser melhor identificadas no meu último livro, "Psicons - Do Real ao Imaginário".

Todavia, a cartografia transpessoal da consciência humana indicava a existência de estados intermediários entre a consciência individual, o eu, e a consciência coletiva, o vácuo ou éter psicônico.

Tais estados, que Schreber descreve com detalhes, foram matematicamente desenvolvidos naquele referido Congresso, podendo ser expressos, em termos físico - linguísticos segundo a figura a seguir:

Probabilidade P

1/P

Informação
Sintática H (bit)

Níveis de
Consciência

+ ∞ (*)

0 - ∞  PSICON
2 0,5 - 1  GRAU DE LINK
1 1 0  EIGENSTATE
0,5 2 1  ESTADO BORNIANO
0  TOTAL PERDA SEMÂNTICA

Obs.:  Os níveis de consciência estão associados a probabilidades e informações sintáticas sobre suas localizações no espaço-tempo.

Os estados semânticos ou coletivos estariam acoplados a informações sintáticas negativas, o que é natural, e vinculados a probabilidades maiores que 1.

Os graus de link iriam de P  > 1 a P + ∞ (Psicon).

O Eigenstate seria o estado em que ocorre a normal solução de equação de Schroedinger, podendo ser visto como não probabilístico determinístico.  Os estados citados abaixo, borniano e virtual e de H = ∞, descem no sentido das probabilidades fisicamente possíveis até atingir o Real, como é dito em Psicanálise, o exclusivamente material (uma forma teórica, de ausência de consciência ou de prevalência absoluta dos aspectos puramente materiais da realidade).

Mas, nós vamos nos concentrar em alguns dizeres de Schreber, identificando-os aos estados superiores da consciência.

 

2a PARTE

A figura a seguir, tão do gosto de Horta Santos, permite uma visualização de gradação de tais estados:

Os estados psicônicos, vacuolares ou etéreos, estão hachurados.  Independem de comunicação sensorial e ligam os seres humanos em permanente coletividade através de um link extra-sensorial.  A comunicação sensorial dá-se pela via física e nada mais faz que introduzir dimensões punctuais em algo pré-existente.  Os triângulos invertidos explicitam a ampliação das consciências, para cima, e a atuação de fatores seletivos no córtex, evitando seu hiper - recrutamento neuronal.

O estudo qualitativo de tais estados ampliados de consciência levou Ring, da Universidade de Connecticut a traçar o seguinte mapa:

Vigília
Pré - consciente
Psicodinâmico
Ontogenético
Transindividual
Filogenético
Extraterreno
Superconsciente
Vácuo
(holo-unidade)

Segundo o autor, a partir da consciência transindividual o indivíduo já penetra em estados coletivos, sendo o primeiro deles equivalente ao estado jungiano.  Os níveis anteriores assemelham-se a estados freudianos individuais, que culminam na regressão ontogenética a experiências perinatais.  A possibilidade de mapeamento da consciência advém exatamente em estados neuronais hipofuncionais, como, por exemplo, no caso de meditação profunda, com redução do lactato do sangue e possibilidade de apreender conscientemente informações que de outra forma permaneceriam inconscientes.  Mas, por outro lado experiências de Grof com LSD, de fórmula molecular semelhante à da serotonina,  produzia estados alucinatórios e delirantes parecidos com os descritos por Schreber.  E, certamente os conhecidos inibidores da monoaminaoxidade produzirão os mesmos efeitos.

 

3a PARTE

Schreber é até hoje considerado o paciente mais famoso da história da psiquiatria e da psicanálise.  Descoberto por Freud, seu livro de memórias foi objeto do principal trabalho psicanalítico sobre a psicose conhecido por "O Caso Schreber" (Freud, 1911).

Sendo um paranóico, é natural que Schreber fizesse seu livro figurar entre "as obras mais interessantes já escritas, desde que o mundo existe".  Megalomania à parte, o fato é que o livro - relato de suas experiências como doente mental e de seu vasto sistema delirante acabou por se tornar a principal referência clínica dos estudos sobre a paranóia.

Todavia, não será do ponto de vista psicanalítico que analisaremos o delírio de Schreber.  Antes, suas experiências revelam aspectos parapsicológicos e sincronísticos próprios da paranormalidade.

Isso pode vir a significar que ao lado do paradigma social em que se transformaram a psicanálise e a psiquiatria, não fica absolutamente excluída a parapsicologia como estudo legítimo e paralelo, concomitante com a vivência paranóide.

Enumeraremos de A a G algumas frases e conceitos de Schreber, formulados em 1903 e posteriormente faremos uma análise parapsicológica, coincidente ou jungiana, com a mesma correspondência de A a G, de forma que o leitor ou o ouvinte possa estabelecer relação das experiências paranóides com a paranormalidade.

Vejamos então primeiro as descrições de Schreber e posteriormente sua correspondência com a análise parapsicológica, tal como a concebemos.

A - Conheci alguns casos, citados pelas vozes que falavam comigo, nos quais as pessoas em questão teriam tido, na vida posterior, uma posição substancialmente inferior à da vida anterior, o que talvez consistisse uma espécie de punição.

B - Apesar disso, em vários casos, principalmente no que diz respeito à alma de Flechsig e à de von W., os fatos em questão estão para mim completamente fora de dúvida, uma vez que tenho comprovado durante anos a influência direta destas almas sobre o meu corpo.

C - Deus soprou o vento e eles desapareceram, contém muito provavelmente uma verdade sólida.  No caso, menciono o Sol apenas enquanto...

D - Ele (Deus) também podia se conectar com algumas pessoas altamente dotadas, fazer com eles uma conexão nervoso.

E - As almas a serem purificadas aprendiam, durante a purificação a língua falada pelo próprio Deus, a chamada "língua fundamental", um alemão algo arcaico...

F - Finalmente, o destino de todas as almas era mais o de atingir unidades superiores fundidas com outras almas para, deste modo, sentir-se doravante como partes integrantes de Deus.

G - ... a não ser que o deus inferior parece ter-se sentido atraído pelos povos originariamente de raça morena (os semitas) e o deus superior pelos povos originariamente de raça loura (os povos arianos).

 

4a PARTE

 A - Os momentos vividos por Schreber de vozes de pessoas de vida anterior e punição mostram a extrema semelhança com a doutrina espírita que, quer queiramos ou não, sobrevive sobre fatos paranormais.

Seria algo em que estariam envolvidos os seguintes fenômenos e interpretações:

- channelling
- telepatia
- sobrevivência
- regressão
- Karma
- drop-in

Deve ser considerado que no espiritismo, a interpretação ingênua da manifestação de entidades já mortas, não necessariamente exclui vivências transindividuais.

Somente, pode ocorrer não ser possível a manifestação dentro de um sistema nervoso a não ser de uma entidade individual, mesmo em caso de drop-in.

Trata-se de uma questão de limitação nervoso do receptor e não da negação da assimetria entre os universos psicônicos e de eigenstate.

B - Apesar de comum na paranóia a invasão do corpo do doente por elementos estranhos a ele, deve ser considerado que Schreber, em seu sistema, admitia que seu corpo era formado de nervos e os nervos seriam a sede da alma.

Desta forma, o que em verdade ocorria era a chamada "fuga do pensamento", fenômeno psíquico básico da esquize.

Porém, esta deterioração do eu, genérica nestes casos, pode ser objetivada como um fenômeno de telepatia e de cognição ilógica.

Esta cognição é interpretada pelo doente d uma forma subjetiva, o que, absolutamente não exclui a possibilidade de ser a causa da afecção.

C - Sem maiores comentários, retiro um excerto do meu livro "Parapsicologia e Psicofísica" - 1980 - pág. 7, onde se encontra um relato sintético de Jung:  "O exemplo a que nos referimos respeita a um fato ocorrido em 1906, quando Jung trabalhava no hospício de Burgholzli, Zurique.  Um esquizofrênico paranóide que olhava ara o sol, piscava e balançava a cabeça, disse a Jung que se ele o imitasse "o pênis do sol mover-se-ia também e esse movimento era a origem do vento".  Em 1910 em meio a antigos manuscritos gregos de visionários de Mithra, Jung leu: "... e também será visto o chamado tubo, de origem do vento predominante.  Ver-se-á no disco do sol algo parecido a um tubo, suspenso.  E na direção das regiões do ocidente é como se soprasse um vento de leste infinito.  Mas se outro vento prevalecer na direção das direções do ocidente, ver-se-á da mesma maneira o tubo voltar-se para aquela direção".  Acrescente-se que o doente não possuía cultura antiga e que os manuscritos só foram revelados após sua alucinação.  Portanto ele não poderia ter retirado aquela passagem do seu inconsciente pessoal, restando daí por simples oposição à coincidência parapsicológica, a manifestação de seu inconsciente coletivo".

D - Transcrevo, literalmente, o que diz José Ferraz Salles, Presidente da Associação Brasileira para Superdotados, em "Os Superdotados", 1982, pág. 96: "... bem como os grandes médiuns espíritas pelo que conseguimos apurar, têm sido tipos superdotados intelectuais por hipoxemia fetal e que, com a ioga ou com os exercícios mediúnicos respectivamente, desenvolveram ao máximo suas já extraordinárias capacidades intelectivo-volitivas e supranormais telepáticas e premonitórias.

A conclusão lógica é que não existe "mediunidade" nestes casos, mas apenas indivíduos superdotados por hipoxemia cerebral com capacidades supranormais".  Ou, ainda: "Em segundo lugar lançamos ao público leitor comum os achados inéditos que trazem luz à descoberta e à orientação dos superdotados, evitando as interpretações falsas de considerar, por exemplo, capacidades mediúnicas, as características supranormais de telepatia e premonição, comuns nestes indivíduos".

A hipótese de Salles é assim sintetizada: "A hipoxemia cerebral, conforme descrevemos, conduz então, não só ao uso dos dois hemisférios, mas ao uso em regime de excitação maior do que o normal".

E - A língua de Deus de Schreber, em alemão arcaico, nos faz lembrar de Jung, que sugeriu um deus místico da guerra, Wotan, que teria assumido o inconsciente coletivo alemão em 1940.  Jung, inclusive, a posteriori da 2{ Guerra, dizia ter indícios claros de que Wotan iria manifestar-se conscientemente na Alemanha.  Ele concluiu sua própria percepção da análise de pacientes alemães que, em sonhos, revelaram a manifestação arquetípica personificada em Wotan.

Deve ser salientado, todavia, que ao final do Século XIX na Alemanha, Wagner, dando ênfase a deuses bárbaros da mitologia germânica, tornava-se precursor do nacionalismo alemão agressivo, com suas óperas grandiosas, particularmente o Anel dos Nibelungos.

Porém, somente após a eclosão da guerra é que Jung pôde referir-se à manifestação guerreira do inconsciente coletivo germânico.  Schreber, ao contrário, revelou que o arquétipo do deus Wotan era uma presença acasual e conectada com o fato da realidade dentro de um universo de natureza imaginária que poderíamos escrever:

Intervalo métrico real  →  mundo causal  →  t2  >  x2

Intervalo métrico imaginário →  mundo acausal →  t2  <  x2

Estas duas representações tornam-se claras no cone de luz de Einstein da relatividade especial:

(*) F - O leitor certamente estará estranhando a inserção de probabilidades maiores que a unidade.  Ocorre, entretanto, que o psicon não é normalizável.  Sua probabilidade punctual é  P = Ψ * Ψ = 1

Isto porque, sendo a fase da onda plana igual a Kx - wt, a  P = e i fase  e - i fase  = e° = 1

A integração no espaço será pois

.

Deve ser dito ainda que, mesmo que empregássemos coeficientes A aplicados à onda plana o resultado não se alteraria.  Se o coeficiente fosse nulo não haveria onda ou teríamos a indeterminação 0 x ∞ .  Estes dados permitem supor probabilidades entre 1 e + ∞ , formando o contínuo transindividual (grau de link).

Tais estados coletivos de consciência são, parapsicologicamente, extremamente similares à descrição de Schreber de "unidades superiores fundidas com outras almas", numa certa forma de ampliação da consciência e experienciação de estados cada vez mais coletivos e cósmicos.

G - Deve ser dito que o texto em apreço foi escrito em 1903, isto é, quase 40 anos antes da 2ª Guerra Mundial.  Sabe-se que uma das grandes molas mestras do nazismo alemão, movimento interno germânico, que propagava a superioridade da suposta raça ariana, foi justamente o anti-semitismo que, se por um lado apresentava características de ordem econômica, por outro revelava toda a irascibilidade que foi lançada sobre o povo alemão.

Com relação à tendência anti-semita, haveria a possibilidade de que Schreber tivesse conhecimento da inquisição ibérica contra o judaísmo, no século XVI.

Particularmente não sei também se este nacionalismo alemão já era uma constante na época em que o texto foi escrito por Schreber, particularmente em relação a algumas interpretações dos livros de Nietzsche.  Mas, de qualquer forma, ele revela uma consciência extraordinária, no sentido psicosensitivo, de algo que iria ocorrer dezenas de anos mais tarde.É muito provável que a experiência de Schreber, paranóia ou esquizofrenia paranóide, o tenha conduzido a estados do tipo "grau de link" ou mesmo de "psicons", em certos momentos em que se configurava um processo de natureza atemporal.

 

5a PARTE

Esta parte fica dedicada a uma síntese da Teoria dos Psicons, tal como apresentada na International Conference on Psychotronic Research, Carrolton, Georgia, USA, em dezembro de 1988.

1.  Massa em movimento imaginária:

.


2.  Psiergia do psicon:

.

3.  Onda psicônica associada

.

4.  Velocidade de fase (não há grupo)

.


5.  Ocupação do espaço -tempo real é total (onda plana)

6.  Tem-se um oceano coletivo de psicons que, individualmente, cobrem todo o espaço - tempo.

7.  O Psicon pode, finalmente ser considerado, o quantum de informação semântica, principalmente porque resolve o paradoxo Einstein - Podolsky - Rosen.